A Semana

A grande chance do novo governo da Síria

Crédito:  SANA/AP

Baerbock, Barrot e Ahmed al-Sharaa: visita a Damasco (Crédito: SANA/AP)

Por Antonio Carlos Prado

Está nas mãos e na vontade política do novo líder da Síria, Ahmed al-Sharaa, o seu país desenvolver daqui para frente um bom ou ruim relacionamento com a União Europeia — ficou mais que claro que não haverá meio-termo. Nos primeiros dias desse novo ano, a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, e o ministro francês que ocupa igual ministério, Jean-Noel Barrot, visitaram Damasco, em um gesto claro de que as nações da Europa estão dispostas a conviverem de forma pacífica e próspera com o grupo rebelde Hayat Tahrir al-Sham, que coordena o novo governo e foi o responsável pela queda do ex-presidente Bashar al-Assad no início de dezembro de 2024. “A União Europeia possui interesse em exercer um papel ativo na reconstrução da Síria, com o objetivo de ajudar a promover um processo gradual e pacífico de transição”, declarou Baerbock. Ela e Barrot fixaram, no entanto, uma condição: Ahmed al-Sharaa tem de cumprir prazos por ele próprio estabelecidos — eleições presidenciais dentro de quatro anos e promulgação de uma constituição em trinta e seis meses. “Esses compromissos são inegociáveis para prosseguirmos com a ajuda humanitária”, concluiu Baerbock.

HISTÓRIA
Arqueólogos por acaso

(Roger-Viollet)

Uma equipe de engenheiros tornou-se involuntariamente um privilegiado grupo de arqueólogos. No trabalho de rotina da expansão da rede de gás natural de Atenas, na Grécia, esses técnicos localizaram partes de uma estátua de Hermes (século VI a.C), um dos mais importantes símbolos do período histórico considerado como Grécia Antiga (2000 a.C a 476 d.C). Hermes é tido como uma das principais divindades da religiosidade da mitologia grega: deus do comércio, da riqueza e, surpresa, exímio ladrão que furtava as camadas mais abastadas da população e presenteava os pobres com aquilo que fora roubado. Reza a lenda que Hermes nasceu nas Arcádias, ficando assim conhecido como mensageiro do Monte Olimpo — nessa função, teria criado a lira para cuidar da alma dos mortos. O achado dos engenheiros deu-se próximo a um antigo teatro, que, segundo a historiografia, pertenceu a Hermes. “Há diversas estátuas desse mito e parte desse monumento agora descoberto está em excelente estado de conservação”, explicou em nota oficial o Ministério da Cultura grego.

Estátua de Hermes e parte de outro monumento que o homenageia, agora descoberto: mitologia na rede de gás (Crédito:Handout / Greek Ministry Of Culture / AFP)
Trabalho de rotina: surpresa boa à cultura da humanidade (Crédito:Angelos Tzortzinis)

REDES SOCIAIS
Zuckerberg faz curva radical à direita

Uma coisa é ter o tiozão do Zap no grupo da família com discurso misógino, machista, racista, negacionista ou nocivo em qualquer forma. Outra é ter o maior nome mundial das redes sociais legitimando todos os tiozões por conta própria. Pois foi isso que Mark Zuckerberg, dono da Meta, que inclui Facebook, Instagram, Threads e WhatsApp, fez ao anunciar o fim do programa de checagem de fatos e substituí-lo por “auto-regulamentação dos usuários”. A decisão, comparável a de Elon Musk ao adquirir o Twitter, é a alegada “defesa contra censura institucionalizada”, mas especialistas apontam que ela prioriza a redução de custos e interesses comerciais sobre a responsabilidade social. Esse movimento ocorre oito anos após o escândalo Cambridge Analytica, que evidenciou o uso de dados de usuários para manipular processos democráticos, e contraria as políticas de moderação adotadas pela Meta desde então. Além disso, a medida desafia regulamentações mais rigorosas, como as da União Europeia, o Marco Civil da Internet e a Lei das Fake News em discussão no Brasil.

A “auto-regulamentação” pode transformar as plataformas em megafones para desinformação e discursos de ódio, já que notícias falsas se espalham 70% mais rápido que informações verificadas. Países como o Brasil, onde redes sociais desempenham papel crucial em períodos eleitorais, podem ser particularmente afetados.

A mudança também ignora o fato de que muitos usuários não possuem ferramentas ou conhecimento para distinguir conteúdos verdadeiros de falsos. A Meta sinaliza um afastamento de compromissos éticos e regulatórios, como evidenciado pelo desdém de Zuckerberg com as leis europeias e preocupações latino-americanas. Enquanto o mundo debate o papel das plataformas no combate à desinformação, a Meta prioriza lucros sobre segurança e responsabilidade social, desafiando governos e sociedade.

As redes de Zuckerberg, pelas quais é acusado de lucrar com a propagação do ódio, alcançam 4,1 bilhões de usuários — ou seja, metade da população mundial (Crédito:Kirsty Wigglesworth)

(Bira Padilha e Luiz Cesar Pimentel)