A Semana

Duas páginas sobre o Purgatório e o Paraíso

Crédito: Divulgação

Imagem que representaria Dante: fundador do idioma italiano (Crédito: Divulgação)

Por Antonio Carlos Prado

Escrita no século XIV e considerada uma das principais obras-primas da literatura mundial (quem não a leu, nunca leu nada), A Divina Comédia, do poeta italiano Dante Alighieri, teve duas de suas páginas originais encontradas durante a delicada operação de transferência do Arquivo de Estado em La Spezia, na região italiana da Ligúria. O livro narra o que seria uma viagem de Dante pelo Inferno, Purgatório e Paraíso, na qual ele é conduzido o tempo todo por sua inconsútil amada Beatriz — isso até a porta do Paraíso, mas nele ingressa com São Bernardo, uma vez que Beatriz, sendo humana, não possuía a pureza necessária para o coroamento da missão. Segundo o prefeito de La Spezia, Pierluigi Peracchini, as raridades agora descobertas contêm, na caligrafia de Dante Alighieri (considerado o fundador do idioma italiano), breves trechos sobre o purgatório e o paraíso. “Trata-se de um tesouro de valor inestimável. Agora pretendemos ver, junto ao Ministério da Cultura da Itália, a melhor forma de expô-las ao público”, disse Peracchini. A Divina Comédia e logicamente também essas duas páginas originais foram escritas no dialeto toscano e florentino – corajosa opção do poeta Dante em uma época na qual tudo aquilo que se redigia era feito em latim.

Páginas originais de A Divina Comédia, agora descobertas: exposição ao público (Crédito:ALFREDO DAGLI ORTI)
O Paraíso de Dante na concepção do pintor Amos Nattini: o ápice da obra não é com Beatriz, mas, sim, com São Bernardo (Crédito:Divulgação)

LEGISLATIVO
De volta aos filmes de faroeste

A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados (CCJ) continua dando inequívocas demonstrações de tentar forçar um retrocesso no Estado de Direito. Ela acaba de aprovar projeto de lei que autoriza o proprietário de terra invadida a utilizar força própria (leia-se jagunços) para reintegrá-la. Autoriza, também, intervenção policial sem ordem judicial. Não se está, aqui, em hipótese alguma, defendendo invasões de propriedades alheias. O que se argumenta é o seguinte: sem a presença do Estado, judicialmente embasada, o que se tem é a chamada terra sem lei, na qual geralmente prosperam violência e assassinatos. Lutou-se muito, durante a ditadura militar, para que o País voltasse ao Estado de Direito com uma Carta digna dele. Conseguiu-se o progresso. Está-se agora propondo um filme de faroeste. A Justiça feita com as próprias mãos é crime.

Comissão de Constituição e Justiça: promoção de retrocesso no Estado de Direito? (Crédito:Divulgação)

HISTÓRIA
Por que JK não morou no Palácio do Catete

Desembarcou nas livrarias do País, nesse final de ano, um excelente livro para ser lido como quem assiste a uma aula — e para ter as suas imagens detalhadamente admiradas. É rico em histórias inéditas, curiosas, fotos e fatos históricos, a maioria deles desconhecida dos brasileiros. Trata-se de Juscelino Kubitschek – uma Fotobiografia, organizado por Fabio Chateaubriand. Eis uma das histórias e fotografias, pouco divulgadas, sobre aquele que foi um dos políticos mais populares do Brasil e, justamente por isso, viu-se perseguido pela ditadura militar. Voltemos, no entanto, à nossa história e à foto. Juscelino tomando café da manhã com a esposa, Sarah, e as filhas Márcia e Maria Estela. Ele foi o último presidente da República a tomar posse no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, antes, portanto, de Brasília ficar pronta. Nada mais lógico do que imaginarmos, então, que esse café da manhã seja no Catete, certo? Errado, Juscelino, apesar de médico e da paixão pela ciência, era um poço de superstição. A foto do elegante desjejum em família é mesmo no Rio de Janeiro, mas no Palácio das Laranjeiras. Por qual motivo? Porque o supersticioso Juscelino, enquanto esteve na Presidência do Brasil (1956-1961), trabalhou no Palácio das Laranjeiras. Eis a razão: Getúlio Vargas, em 1954, suicidou-se no Palácio de Catete. Juscelino nada tinha contra Getúlio, muito pelo contrário, mas considerava que, morar onde morou um suicida, não lhe traria sorte. Eis outra cena, essa referente a um hábito de JK bem conhecido: a mania de, em entrevistas, pedir a câmara fotográfica a algum repórter e ficar fotografando todo mundo.

Juscelino com a esposa, Sarah, e as filhas Márcia e Maria Estela: elegante desjejum nas Laranjeiras (Crédito:Divulgação)
Juscelino pedia emprestada câmera a repórteres: clique geral (Crédito:Divulgação)