Coluna

Com o copo meio cheio ou meio vazio

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Cristiano Noronha: "Eis a explicação da queda no prestígio do presidente. O governo dá com uma mão e tira com a outra a partir de decisões equivocadas" (Crédito: Divulgação)

Por Cristiano Noronha

Chegamos ao fim do ano. Momento de fazer um balanço de 2024 sob a ótica política. Um ponto de partida interessante para essa análise é observar o que aconteceu com a avaliação do governo ao longo do período.

Como referência, vejamos o que mostra o Instituto Atlas Intel. No dia 2 de janeiro, a aprovação do desempenho do presidente Lula (PT) estava em 52,7%. A desaprovação, em 42%. Hoje, com os dados do fim de novembro, esses números estão em 49,6% e 45,6%, respectivamente. Ou seja, a diferença entre quem aprova e desaprova caiu de 10,7% para 4%.

E essa queda na avaliação do governo aconteceu mesmo diante de alguns indicadores positivos. No início de janeiro, o mercado, de acordo com a pesquisa Focus do Banco Central, previa um crescimento do PIB para este ano de 1,59%. Agora, as projeções superam 3%.

Além disso, a taxa de desocupação de 6,2% registrada no trimestre terminado em outubro de 2024 foi o menor resultado em toda a série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), iniciada em 2012 pelo IBGE. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) revelam que até outubro foram criados mais de 2 milhões de novos postos de trabalho em 2024.

Mas há números que preocupam e trazem impacto ao dia a dia das pessoas. A inflação continua rodando em patamares elevados. No mercado, ainda de acordo com a Focus, havia uma previsão de que a inflação encerrasse
o ano em 3,90%. Hoje, a expectativa é de que o IPCA feche 2024 próximo de 5%. Com isso, o Banco Central teve que aumentar a taxa de juros.

A questão fiscal é outro tema preocupante, com impacto direto na inflação. Pela primeira vez na história, a dívida bruta do Brasil ultrapassou R$ 9 trilhões em outubro. Somou R$ 9,032 trilhões no mês, com alta de 1,16% em relação a setembro de 2023, e de 14,13% ante outubro daquele ano. Em outubro de 2024, o estoque atingiu 78,64% do PIB, o que corresponde ao maior patamar desde outubro de 2021, quando foi de 79,1%. Essa incerteza fiscal tem impacto direto no dólar. Em 2 de janeiro, primeiro dia útil de 2024, a cotação do dólar estava em R$ 4,89. Agora, está beirando R$ 6.

Havia uma grande expectativa no mercado de que o pacote de gastos do governo pudesse reverter as expectativas ruins do mercado e tivesse um impacto positivo no câmbio. Mas a decisão do governo de também anunciar aumento de gastos com a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, com impacto estimado de R$ 50 bilhões, acabou tendo repercussão negativa.

Eis a explicação da queda no prestígio do presidente. O governo dá com uma mão e tira com a outra a partir de decisões equivocadas.

Se o governo teve essa postura em 2024, bem distante das eleições de 2026, podemos esperar um quadro desafiador para os próximos dois anos. Afinal, todo governo tende a ser mais leniente com o gasto público na busca da reeleição.