O kid covarde e seus kids pretos
Por Carlos José Marques
Já se sabe de antemão qual a gênesis do fracasso do famigerado golpe de Estado bolado nas entranhas do governo ensandecido do capitão Jair Messias Bolsonaro, aquele tido como mito entre alguns por suas fancarias bizarras que, ao que tudo indica, almejou usurpar o poder do sucessor e assassinar adversários. Bolsonaro tenta sair de fininho dos holofotes que mostram as cenas e os mentores de crimes abomináveis, assim como se acovardou e desistiu no último instante em levar adiante o ardil meticulosamente montado entre as paredes do Palácio do Planalto, no qual era o inquilino titular e de onde almejava colocar a República de joelhos aos seus pés e tacape. Com ele estava uma corja de pretensos patriotas autoritários forjados em parte no grupo de elite da caserna definido como kids pretos — o pelotão das forças especiais do Exército. Militares da ativa e de pijama integram a infantaria dessa milícia antidemocrática. O ex-capitão Bolsonaro, que já havia sido preso e expulso dos quartéis por outros atos de insubordinação, bem que tentou integrar a tropa dos tais kids pretos. Por duas vezes. Fracassou. Virou apenas um kid covarde da nova era no momento de protagonizar a trama que gestou por meses em seu gabinete. Temeu a prisão. No último instante recuou de assinar o decreto que mobilizava o avanço de seus áulicos combatentes. Chegou a sugerir mudanças na minuta do decreto da GLO que deveria dar início ao plano. Retirou trechos do documento que previa também a prisão do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e do magistrado Gilmar Mendes. O fim do seu algoz, Alexandre de Moraes, era a meta maior. Os kids pretos estavam a postos, prontos para a ordem de comando. Raptariam Moraes, o tirariam de evidência e, por fim, o executariam explodindo com a sua existência. Literalmente. Inacreditável mesmo é que figuras do calibre de um general Braga Netto estivesse entre os artífices, quase como “comandante in chef” da sublevação militar. Colocou-se de fato na função de direção de dois núcleos golpistas. Abrigou as conversas de motinados em sua própria casa. Liderou a incitação e trouxe para suas fileiras outros oficias de alta patente. É um horror imaginar o pesadelo que esteve prestes a virar realidade no Brasil. Em pleno século 21 a histórica republiqueta das bananas daria motivos de sobra para ser vista e consagrada em definitivo no mundo como território de um retrocesso civilizatório. A gentalha do extremismo queria tomar conta e imperar com suas idiossincrasias, mentiras e radicalismo tomando posse das liberdades individuais. A bandalheira totalitária ainda imagina que pode enganar, também por aqui, a massa ignara de milhões de seguidores, gestados na ignorância política e social que marca um País pautado pelas desigualdades. Abolir o Estado Democrático de Direito é enterrar qualquer chance de desenvolvimento crível da Nação. Vide o caso da Venezuela, chafurdando na lama da patifaria de caudilhos desde Hugo Chávez. Bolsonaro sonhava ser o Chávez brasileiro, guardados os pendores ideológicos à esquerda ou à direita. Tentava meter as botinas sobre parágrafos da Constituição e rasgar qualquer princípio ali grafado na Carta Magna. Arrivistas inconsequentes agem assim. O Brasil esteve à mercê de uma cambada deles. Nos bastidores do festim diabólico, produziram, divulgaram e amplificaram desinformações. Foram kids pretos de tempos sombrios, manietados por um covarde de carteirinha que só temeu o seu encarceramento por atos que sabia ilegais. Bolsonaro merece a cadeia, nada menos. Há muito tempo. Caudalosas são as provas de suas arbitrariedades. Para além do inominável complô para melar os resultados das urnas, ainda maculou a imagem de uma das instituições mais respeitáveis por aqui. A cúpula das Forças Armadas está perplexa com tamanha ignomínia que foi gestada intramuros de sua organização. Como não trancafiar aqueles que ardilosamente arquitetaram, na base da força bruta e ilegal, a subjugação do País? Não é possível indulgência a canalhas. Eles não devem ser anistiados ao arrepio da Lei. Que paguem, caro, pela petulância delituosa.