Irmãos à obra: Brasil e Portugal endereçam fluxo bilateral por meio do LIDE
Ao reunir personalidades da área financeira, empresários, políticos e demais autoridades, a conferência do Lide, em Lisboa, deixa claro o quanto Brasil e Portugal estão próximos de um mesmo ideário tecnológico e comercial
Brasil e Portugal se aproximam de um ponto de convergência comercial retratando muito a nova era de relações globais que o País vem buscando nesses tempos. Tecnologia, inteligência artificial, transição energética, investimentos industriais, parcerias em projetos de infraestrutura compõem a tônica dos entendimentos firmados em fóruns como o que ocorreu dias atrás na histórica Lisboa, durante a conferência do LIDE – Grupo de Líderes Empresariais, que vem desbravando mercados por meio de caravanas rotineiras ao redor do mundo, compostas por CEOs, big-shots das Finanças e autoridades.
A conferência do LIDE, em solo europeu, ocorreu dias antes do G20, o encontro de cúpula de chefes de Estado. Na avant-première portuguesa, o ministro da Economia local, Pedro Reis, desenhou, em áreas diversas, um mapa de potencialidades que serviu como bússola de incremento da balança comercial. Ele mostrou Portugal como um hub de investimentos e inovações graças à infraestrutura ali construída e a políticas favoráveis aos negócios: “Agora temos de alinhar estratégias com países como o Brasil para fortalecer as relações econômicas de nossa nação”. E concluiu: “Menos palavras e mais ação”.
Do lado brasileiro, o ex-presidente Michel Temer e o embaixador Raimundo Carreiro fizeram a diplomacia de aproximação que contou com mais de 150 empresários participantes. Resta a pergunta: O que realmente importa nesse fluxo bilateral que vai se estabelecendo crescentemente, cada vez mais por vias privadas e iniciativas como a do LIDE?
Os participantes de rodadas do tipo dizem que o objetivo maior está justamente no incremento das potencialidades, para além das reuniões burocráticas e modorrentas intrablocos como as do Mercosul, que rendem poucos resultados.
Decerto, articulações assim, com conversas diretas – e elas ocorrem a todo instante nos seminários do LIDE -, servem para acelerar etapas, traçar objetivos concretos e encurtar as próprias reuniões. A regulação da IA tomou fôlego a partir das determinações do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que assumiu a missão de levá-la a cabo nas próximas semanas.
Os especialistas apontam que a troca de ideias entre parlamentares e empresários é que dará formato adequado a um marco civil regulatório. Esse é um tema que ganha horizonte bem mais amplo se considerados os impactos da tecnologia IA nas áreas da Educação e produção energética.
O professor e advogado Carlos Affonso Souza, do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS), afirmou que não é possível ver a IA como mero setor de atividade. Para ele, trata-se de uma plataforma horizontal que alimenta os mais distintos setores. Já o presidente da Febraban, Isaac Sidney, apontou que, em meio à tecnologia de ponta, o Brasil está se tornando referência por avanços revolucionários, especialmente no plano financeiro. “Os bancos brasileiros hoje exportam tecnologia”, disse ele, traçando um panorama do pioneirismo nacional em inúmeros serviços.
Com ele concordou Paulo Henrique Costa, do banco BRB, ao falar da bancarização e da digitalização como fenômenos irreversíveis, exemplificando o impacto do PIX e do Open Finance. Opinou que a moeda digital Drex ampliará o acesso ao crédito e integrará o País.
Breno Silva, parceiro global da Bootcamp, aceleradora de startups, alinhado com a defesa do diálogo multilateral, diz que a troca que ocorre entre brasileiros e portugueses é algo vital porque, na sua perspectiva, “a inovação não se dará no isolamento” — e inovação hoje é sinônimo de IA. “Atualmente, 80% da energia de data centers já é destinada a IA”, alega, apontando que o Brasil pode se posicionar como líder de data centers por contar com energia limpa e barata.
Tom Petreca, diretor para a América Latina da gigante chinesa Tencent, mostrou aplicativos de IA que estimulam a integração de serviços públicos em prol de um melhor atendimento às pessoas. Foram exemplos de como conquistar mercados nesse campo.
Problemas de ordem fiscal também entraram no roteiro dos debates. O ajuste de contas foi tido e avaliado como urgente e a presença de uma forte bancada legislativa, além de governadores e demais autoridades, propiciaram entendimentos que antes demoravam a acontecer. “Estamos sempre em crise de contas e sair dela é algo que todos almejamos”, disse o deputado federal Elmar Nascimento. “O Congresso jamais se furtará a aprovar qualquer iniciativa que dê racionalidade ao gasto público”.
Nascimento, que recentemente retirou a sua candidatura à presidência da Câmara dos Deputados, se mostra otimista e acredita que haja um descompasso entre a situação econômica do País e as expectativas do mercado.
O ex-ministro Henrique Meirelles disse que o presidente Lula não precisaria cortar gastos se tivesse mantido o teto — algo que foi deixado de lado há muito tempo. Segundo ele, o Brasil está bem situado no plano econômico. “O PIB brasileiro cresceu mais do que os economistas esperavam em 2023 e está crescendo mais que o esperado para 2024. Isso abre uma oportunidade grande para investidores, independentemente do setor específico”.
Para Meirelles, a agroindústria será um desses vetores promissores para aportes de capital. O ex-ministro acredita que nem mesmo eventuais restrições que ocorram no governo Trump terão impacto relevante sobre o desempenho brasileiro.
O co-chairman do LIDE e ex-governador João Doria alega que o intuito dessas missões internacionais promovidas pelo grupo é justamente trabalhar na direção de maior desenvolvimento, mais resultados econômicos e sinergia com players globais que fazem a diferença.