Gigantes adormecidos: o pop do século passado sai da hibernação
O som dos 80 e 90 não somente está de volta como vem fazendo até mais sucesso do que na época; provas disso são The Cure, Tears for Fears e os shows marcados e esgotados no País
Por Felipe Machado e Luiz Cesar Pimentel
Os fãs daquela sonoridade típica dos anos 1980 têm motivos para comemorar. Dois gigantes da época que estavam adormecidos acabam de acordar com trabalhos de qualidade, talvez até melhores que em suas épocas de ouro. Os britânicos do The Cure, após 16 anos sem lançar um álbum de estúdio, trazem à tona Lost World, reafirmando sua posição como deuses do rock alternativo. Já o Tears for Fears, com o lançamento de Songs For a Nervous Planet, conseguiu renovar o som pop do grupo, agora mais sério, mas sem perder a identidade. Explorando temáticas existenciais em sintonia com seu estilo synthpop, o álbum chamou atenção tanto pelo conteúdo musical quanto pela polêmica capa, criada com inteligência artificial. Para os fãs, a banda continua a desafiar os limites do pop, mantendo a relevância em tempos de transformação tecnológica e criações baseadas em IA.
Ambos os grupos transcendem a nostalgia ao oferecer produções que dialogam com questões contemporâneas. O The Cure, conhecido por suas letras e melodias introspectivas, cria uma espécie de ponte emocional entre as velhas e novas gerações, enquanto o Tears for Fears introduz novas camadas de complexidade à sua obra, incluindo o resgate de sua essência criativa em festivais e turnês lotadas.
Ao revisitarem suas trajetórias, The Cure e Tears for Fears resgatam o brilho de suas épocas douradas enquanto se lançam em direções que reafirmam sua relevância na cultura pop atual. Mais do que um revival, os recentes lançamentos representam um testemunho do poder duradouro da música em transcender épocas e tocar audiências globais.
Outro grupo que resolveu fazer as pazes com o passado foi o Oasis, dos irmãos Liam e Noel Gallagher. No final de agosto, eles anunciaram a volta da banda de rock britânica após 15 anos da separação causada justamente pelas personalidades polêmicas e brigas entre os dois.
Em princípio, foi confirmada somente uma série de shows no Reino Unido e na Irlanda, com o nome de OASIS LIVE ’25 como turnê. Mas rapidamente a notícia se espalhou e o grande interesse fez com que o giro incluísse mais países, continentes e, obviamente, datas.
O álbum de estreia da banda, Definitely, Maybe, voltou ao topo das paradas britânicas em consequência imediata e a turnê em 2025 passou a celebrar o 30º aniversário do segundo disco, (What’s the Story) Morning Glory?, que inclui os sucessos “Wonderwall”, “Don’t Look Back in Anger” e “Champagne Supernova”.
Meu Brasil brasileiro
O retorno, apesar de não vir com a promessa de álbum ou músicas novas, causou rebuliço no Brasil. Ao longo da semana seguinte ao anúncio, as buscas no Google pela banda atingiram o maior pico dos últimos cinco anos e dois shows já foram confirmados por aqui, nos dias 22 e 23 de novembro, no Morumbis, em São Paulo.
Eles não marcarão presença sozinhos pelos palcos brasileiros entre os astros do passado que seguem relevantes. Neste restante de novembro, acontecem shows de Toto e Lenny Kravitz, além de Iron Maiden em dezembro. Para 2025, estão confirmados Christina Aguillera, Shakira e Sting em fevereiro, Pretenders, Nile Rodgers & Chic e Patti Smith em maio, Kylie Minogue em agosto, além do citado Oasis e Linkin Park em novembro.
Entre os artistas nacionais, vale a mesma regra. A eterna Kid Abelha, Paula Toller, está em turnê comemorativa de 40 anos de carreira, apresentando tanto seus sucessos com a banda quanto os da carreira solo.
O revival do emocore teve seu ápice recente, com os retornos de três bandas que estavam paradas e que se reencontraram em palcos muito maiores do que costumavam tocar nos auges artísticos, como NX Zero, Cine e Restart.
Já a tour Encontro, reunião do Titãs com seus membros originais — com exceção de Marcelo Fromer, que morreu em 2001 — lotou por seis vezes o estádio Allianz Parque, em São Paulo, recebendo um público total de 300 mil pessoas. Ao todo, os Titãs foram vistos por quase um milhão de fãs. Nunca houve no País turnê com o nível de produção vista no palco do grupo, com um sistema de som de altíssima qualidade e telões de definição que só costumam estar presentes em shows de megaestrelas estrangeiras. Ou seja, estamos todos nivelados, na verdade, pelas datas de nascimento das atrações.