Coluna

Os grandes vencedores

Crédito: Bruno Escolastico Sousa Silva;Mateus Bonomi;Paulo Lisboa

Mesmo sem disputar o pleito, os maiores vencedores foram Tarcísio, Caiado e Kassab (Crédito: Bruno Escolastico Sousa Silva;Mateus Bonomi;Paulo Lisboa)

Por Germano Oliveira

No domingo, 27, no início da noite, quem aparecia comemorando euforicamente o resultado das eleições nas telas da TV eram os governadores Tarcísio Gomes de Freitas (SP), Ronaldo Caiado (GO), e o presidente do PSD, Gilberto Kassab. Todos com largos sorrisos no rosto. Tarcísio e Kassab, além de Baleia Rossi, presidente do MDB, eram ovacionados no comício da vitória de Ricardo Nunes. Afinal, os três líderes partidários foram os responsáveis pela reeleição do prefeito de SP. Derrotaram Lula e Bolsonaro. O petista não fez força nenhuma para ajudar Boulos e o ex-presidente até atrapalhou o prefeito, querendo pular para o barco de Marçal. Por sorte, Tarcísio o socorreu, mesmo sendo advertido por Bolsonaro de que não deveria entrar de cabeça na eleição do emedebista.

A força

Mas o entusiasmo de Kassab e Baleia tinha um motivo especial. Os dois juntos elegeram a maior quantidade de novos prefeitos. O PSD venceu em 887 cidades e o MDB em 850. Juntos, comandarão um orçamento de R$ 489 bilhões (R$ 254 bilhões do MDB e R$ 234 bilhões do PSD). Muito dinheiro do orçamento foi uma das razões do sucesso dos dois partidos.

Gestões

Além da máquina administrativa que esses partidos usaram e abusaram durante as eleições, o PSD e o MDB foram beneficiados pelo bom desempenho de suas gestões. O PSD foi contemplado pelo sucesso dos prefeitos Eduardo Paes (RJ) e Fuad Noman (BH), que foram reeleitos, e o MDB foi agraciado pela reeleição Nunes (SP) e Sebastião Melo (Porto Alegre).

A força do padrinho

(Divulgação)

O deputado Alexandre Barbosa (PSDB-SP) – de branco – provou que o poder local tem mais força do que os padrinhos nacionais. Com base na pesquisa Quaest, o apoio do deputado à reeleição do prefeito Rogério Santos (Republicanos), da cidade de Santos, teve peso de 33% na decisão do voto do eleitor, enquanto que os líderes nacionais influíram menos: Tarcísio teve peso de 27%, Bolsonaro de 26% e Lula, 22%.

Rápidas

● Apesar da economia estar razoavelmente se portando bem, a inflação é que está dando motivos para preocupação. O IPCA-15, que é a prévia da inflação, subiu 0,54% em outubro, contra 0,13% do mês anterior. Em 12 meses, o índice acumula 4,47%, muito perto do teto de 4,5%.

● O governo não pode reclamar também da arrecadação de impostos e contribuições federais, que, em setembro, bateu o recorde de R$ 203,1 bilhões, ou 11,61% a mais do que o mesmo período de 2023. É o maior desde 1995.

● Até o FMI está apostando mais no Brasil. Conforme o relatório Perspectiva Econômica Global, publicado pelo banco, o PIB brasileiro deve ter um crescimento de 3% em 2024, acima de países como EUA, Espanha, França e Alemanha.

● O mercado financeiro espera para os próximos dias um novo pacote com o corte de despesas públicas sugeridas pelos ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento). Eles só precisam combinar com Lula.

Retrato falado

“PL não tem votos para vencer PT em 2026 e precisa do centro” (Crédito:Evaristo Sa)

O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, disse ao “Estadão” que o seu partido precisa atrair novos eleitores do centro, além da direita e da extrema direita, para viabilizar uma vitória na eleição presidencial de 2026. Para ele, do jeito que está, o PL não conseguirá vencer o PT. “Nosso adversário fez cinco presidências da República. Ou nós aumentamos a nossa base, trazendo o pessoal do centro que defende as pautas da direita, ou nós perdemos a eleição”, disse Valdemar.

Extremistas varridos

De todos os extremistas que foram candidatos a prefeito nestas eleições, apenas Abílio Brunini (PL), eleito prefeito em Cuiabá, teve sucesso. Apoiado por Bolsonaro, o deputado venceu Lúdio Cabral (PT). Os demais extremistas de direita, como Fred Rodrigues, em Goiânia, derrotado pelo empresário Sandro Mabel, não tiveram êxito. O mesmo aconteceu com a candidata a prefeita de Curitiba, Cristina Graeml, e com o bolsonarista Bruno Engler (PL), em Belo Horizonte. Até o médico Marcelo Queiroga, ex-ministro da Saúde de Bolsonaro, teve que sorver uma grande derrota para o atual prefeito Cícero Lucena. O eleitor não quer saber mais de extremistas na política.

Primeiro turno

Essa tendência ficou evidente já no primeiro turno, especialmente com a derrota exemplar do coach Pablo Marçal, que foi o autor de uma das maiores fraudes destas eleições, ao montar um laudo falso sobre o candidato Guilherme Boulos (PSOL), a quem acusou de ser viciado em drogas. A polícia investiga o caso.

Mulheres no poder

(Divulgação)

Apesar de representarem 52% da população, apenas 727 mulheres se elegeram prefeitas, de um total de 5.569 prefeituras. A maioria das mulheres foi eleita por partidos de direita. O PSD elegeu 104 prefeitas e em segundo ficou o PP (89 prefeitas). No segundo turno, na disputa em capitais, destacou-se Adriane Lopes, reeleita em Campo Grande.

Comunista cansada

Depois de 25 anos filiada ao PCdoB, Manuela D’Ávila deixou o partido e montou uma empresa para prestar consultoria a partidos de esquerda. Durante as atuais eleições, recebeu R$ 1 milhão para prestar consultoria a Guilherme Boulos (R$ 470 mil), a Natália Bonavides, candidata em Natal (R$ 300 mil) e a Talíria Petrone (R$ 160 mil), em Niterói.

A nova paisagem do ABC

(Divulgação)

O PT, que chegou a ter a maioria dos prefeitos do ABC, por pouco não foi varrido da região onde nasceu. A legenda só reelegeu o prefeito de Mauá. Nas demais cidades, sofreu derrotas acachapantes, como em Santo André, onde o prefeito Paulo Serra (PSDB), que comandou a cidade por dois mandatos consecutivos, elegeu seu sucessor Gilvan de Souza, derrotando a petista Bete Siraque.

Toma lá dá cá

Fernando Vernalha, sócio-fundador do escritório Vernalha Pereira (Crédito:Divulgação)

Como evitar casos como o da Enel, que pode perder o contrato em SP?
O caso acende um alerta sobre a adequada definição dos indicadores de desempenho do concessionário e da alocação prévia de riscos em contratos de concessão.

Eventos climáticos podem isentar a concessionária de responsabilidade?
Podem isentar a concessionária se forem extremos, imprevisíveis e de consequências incalculáveis.

Qual seria a solução neste momento para qualificar o contrato da concessão?
No caso da Enel, como o fim do prazo do contrato está próximo, talvez não haja tempo hábil para soluções jurídicas mais exigentes. O importante será cuidar para que os futuros contratos de concessão enderecem bem essas questões.