A Semana

O Brasil é refém da COP-29

Crédito: Romy Arroyo Fernandez

Por Antonio Carlos Prado

A Conferência das Nações Unidas Sobre Mudanças Climáticas COP-30, que será realizada no Brasil, no próximo ano, na cidade de Belém, tornou-se refém da COP-29, que está prestes a começar (11 de novembro) em Baku, capital do Azerbaijão. Ambientalistas europeus declararam que se nenhum acordo for firmado agora, a COP-30 dificilmente terá uma agenda produtiva. Ou seja: seguirá em discussão a proposta da Conferência de Paris (2015), que até agora é protocolo retórico: a única chance de mitigar os danos ambientais é manter em 1,5 graus centigrados o aquecimento global em relação aos níveis anteriores à industrialização no século XIX. É difícil, muito difícil, que se chegue à ratificação desse compromisso em Baku, conhecida como “berço da indústria moderna dos combustíveis fósseis” — no Azerbaijão a atividade petrolífera move a economia e é uma das mais significativas em todo o mundo. Sem decisões radicais em Baku, a COP-30 em nada avançara, será inócua, sem a possibilidade de apresentar pautas novas. E, admitamos, também aqui há um nó: o governo brasileiro quer se valer da COP-30 para se tornar um “exemplo verde”. Paradoxalmente, no entanto, quer construir poços petrolíferos a seiscentos quilômetros da foz do Rio Amazonas.

Protesto contra  aquecimento global e apoio à COP-29: medo e esperança (Crédito:Divulgação)

LIVROS
As históricas cartas dos gênios LC

LC 1, Lucio Costa: convite de Capanema (Crédito:Divulgação)
LC 2, Le Corbusier: arquitetura modernista (Crédito:Divulgação)

Chega às livrarias do País Lucio Costa Le Corbusier: Correspondência (editora Bem-Te-Vi). Reúne cartas trocadas entre o arquiteto e paisagista brasileiro e o arquiteto franco-suíço — missivas nem sempre amistosas, mas que não abalaram o respeito mútuo. Trata-se de precioso documento sobre a arquitetura moderna, e registra momentos relevantes da política do Brasil. Quando era ainda o Rio de Janeiro a capital federal, o intelectual e então ministro da Educação Gustavo Capanema convidou Lucio Costa para desenvolver o projeto de uma nova sede para sua pasta. Missão aceita sob condição: Le Corbusier tinha de ser convidado também. Assim, em 1936 teve início a amizade e a troca das cartas que agora chegam à leitora e ao leitor — e que tanto ensinaram gerações de arquitetos. A nova sede do Ministério foi inaugurada em 1943, é tombada pelo Iphan e hoje chama Palácio Capanema. Abriga painéis de Candido Portinari e jardins suspensos de Burle Marx.

CASO MARIELLE
Sete jurados, três missões

A ministra da Igualdade Racial e irmã de Marielle, Anielle Franco (atrás, ao centro) e demais familiares chegam ao tribunal: “parecia estar indo de novo ao velório”, declarou ela (Crédito:Silvia Izquierdo)

Com uma eternidade de seis anos e oito meses de procrastinações teve início na quarta-feira, dia 30, no IV Tribunal do Júri do Rio de Janeiro, o julgamento dos ex-PMs Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, réus confessos da execução em 2018 da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes. Os sete jurados do conselho de sentença têm três missões. A primeira: condenar os acusados, já que eles admitiram a culpa — jurados são soberanos no veredicto, desde que não contrariem a materialidade das provas. A segunda missão: com a condenação, recuperar perante os países nos quais reina a civilidade a imagem degradada que marca o Brasil nesse episódio. Não é para menos: após uma novela de fingimentos de que se investigavam eventuais mandantes do crime, a pressão da sociedade fez com que seus nomes fossem revelados: supostamente, são eles o ex-conselheiro do Tribunal de Contas do Estado Domingos Frazão, o deputado federal cassado Chiquinho Frazão e o ex-chefe de polícia do Rio de Janeiro Rivaldo Barbosa — que visitava diariamente a família de Marielle, debulhava-se em lágrimas, enquanto às escondidas protegia os que eventualmente mandaram executá-la. A terceira missão dos jurados: ao menos mitigar (é impossível extirpar) a histórica colusão de alguns policiais com delinquentes. Não por outro motivo prendeu-se na terça-feira Rogério Andrade (filho do famoso contraventor e patrono de escola de samba Castor de Andrade, já falecido), acusado de assassinato na disputa por pontos de jogo do bicho. Não por outro motivo o delegado Barbosa está detido em Brasília e não no Rio de Janeiro, evitando-se, assim, que siga mantendo contato com demais policiais cariocas.

Na tela colocada no recinto do julgamento aparecem Ronnie Lessa (à esq.) e Élcio Queiroz (à dir.): eles assistem ao julgamento, como manda a lei, cada um na penitenciária onde está preso (Crédito:Bruna Prado)