As vozes das urnas
Por Germano Oliveira
De norte a sul e de leste a oeste, os 155 milhões de eleitores foram uníssonos em externar uma posição sobre as eleições municipais deste ano: chega de extremismos, quer de direita ou de esquerda. Os brasileiros mostraram nas urnas que desejam políticos moderados, que defendam propostas de direita ou de centro direita.
Não por acaso, o PT e o PSOL, que abraçam projetos mais radicais e insistem em teses mais à esquerda, como aborto, descriminalização das drogas, direitos humanos para bandidos, invasão de propriedades para uso dos mais pobres, entre outros temas abominados pela direita, foram os grandes derrotados nestas eleições.
O PT só elegeu um prefeito dentre as capitais (Evandro Leitão, em Fortaleza) e o PSOL não elegeu um único prefeito, perdendo até mesmo a Prefeitura de Belém, onde o prefeito Edmilson Rodrigues não foi nem para o segundo turno.
Foi uma resposta não apenas ao PT como instituição. Os recados das urnas foram dados ao presidente da República e aos seus ministros, que, apesar de contarem com a máquina nas mãos, dinheiro público para obras, emendas para deputados, acabaram como os grandes perdedores deste pleito.
Tiveram que engolir vitórias acachapantes de seus aliados de centro direita no Congresso, como do PSD, MDB, PSB, União Brasil e tantos outros. PSD e MDB, que têm três ministérios cada, e que foram os que mais elegeram prefeitos, certamente não se contentarão com os cargos que têm atualmente na Esplanada dos Ministérios e vão exigir de Lula mais assentos, até mesmo no Planalto.
Kassab (PSD) e Baleia Rossi/Michel Temer (MDB) vão querer maior espaço, inclusive na direção do Congresso. Kassab, que tem sob seu comando a presidência do Senado (com Rodrigo Pacheco), deseja manter força no Legislativo e batalha para fazer de Antonio Brito o presidente da Câmara. Brito está em disputa acirrada com Hugo Mota (Republicanos), o candidato de Arthur Lira.
Lula até já deu sinais que pode apoiar Mota, e Bolsonaro revelou que não tem nada contra ele. O problema é o que fazer com Elmar Nascimento (União Brasil), que até recentemente era dado como pule de dez. Aparentemente, até o PT já topou Mota, que ofereceu a vice-presidência da Casa ao partido de Gleisi Hoffmann. O fato é que, agora, com
as vitórias retumbantes do PSD e MDB, essas legendas terão que ser acomodadas em mais ministérios e com mais cargos no Congresso, onde rolam as emendas bilionárias, responsáveis pela (re)eleição de seus avarentos prefeitos.
Mas o PT, e o próprio Lula, já absorveram o tamanho da derrota.
Tanto que marcaram, para o início de dezembro, uma grande plenária do partido para discutir a virada de mesa que a esquerda precisa dar para não ser engolida, de vez, nas eleições presidenciais de 2026. Lula disputará um quarto mandato, mas para isso precisará se distanciar da esquerda e caminhar para o centro. Este foi o recado das vozes das ruas.