Como John Williams foi resgatado por Spielberg e virou o maestro de Hollywood
Por Felipe Machado
RESUMO
• Com 54 indicações ao Oscar e cinco estatuetas na estante, John Williams é o compositor mais bem sucedido da história do cinema
• Sua trajetória inspirou um documentário que revela o talento e a personalidade do homem à frente da orquestra
Aos 92 anos, o maestro John Williams alcançou um feito bastante raro: ele se tornou uma figura icônica em duas áreas, a música e o cinema. Seu nome nem sempre é reconhecido pelo público, mas certamente milhões de pessoas saíram das salas de exibição empolgadas e fascinadas por suas criações. Compositor de trilhas inesquecíveis para filmes como Guerra nas Estrelas, Tubarão, Indiana Jones e Harry Potter, suas melodias e arranjos são reconhecidos em todo o mundo.
Antes de alcançar esse sucesso, porém, Williams passou por um período de profunda adversidade pessoal e profissional. Foi salvo por dois jovens cineastas que começavam a despontar em Hollywood nos anos 1970: Steven Spielberg o convidou para criar a sombria música de Tubarão, uma produção original arriscada que misturava aventura e suspense. George Lucas apostou em seu talento para escrever as orquestrações do seu novo projeto de ficção científica, para o qual ninguém dava muita atenção antes de ele explodir nas bilheterias: Guerra nas Estrelas. Foi somente depois desses dois filmes que o maestro encontrou sua redenção e o verdadeiro renascimento artístico.
Essa trajetória é o tema do documentário A Música de John Williams, dirigido por Laurent Bouzereau e disponível na Disney+. O longa explora como um artista, na meia-idade, viúvo e criando três filhos adolescentes, se transformou no compositor mais celebrado de sua geração.
Bouzereau, que também é autor de livros sobre o cinema de Hollywood, destaca a impressionante resiliência de Williams, característica que destoa nessa era em que o sucesso instantâneo é tão glorificado. Para o cineasta, sua história mostra o valor da persistência e da importância de aperfeiçoar a arte ao longo de anos de trabalho duro — o documentário soa como uma lição para os que buscam alcançar sucesso rapidamente nos dias de hoje.
Desde seus primeiros dias como pianista de jazz até suas 54 indicações ao Oscar — e vencedor de cinco estatuetas —, o longa analisa as inúmeras contribuições de Williams para o cinema, mas não esquece seu lado erudito. Compositor prolífico, escreveu peças como o Concerto para Trompa, para a Orquestra Sinfônica de Chicago, e o Five Sacred Trees, para fagote, encomendado pela Filarmônica de Nova York. Este ano ele será homenageado por diversas orquestras norte-americanas, que executarão versões de seus temas mais famosos, entre eles os de Indiana Jones, Parque dos Dinossauros e Harry Potter.
A volta por cima
Nos anos 1960, Williams já era um nome conhecido em Hollywood, tendo trabalhado como pianista e compositor em diversas produções para cinema e TV. A música fazia parte de sua vida desde a infância, quando ouvia o pai, baterista de jazz, em transmissões de rádio.
No entanto, foi com seu primeiro Oscar, pela trilha de Um Violinista no Telhado (1971), que ele começou a ser levado a sério pela indústria cinematográfica. Apesar de seu progresso profissional, sua vida pessoal sofreu um duro golpe em 1974, quando sua esposa, Barbara Ruick, faleceu de um aneurisma cerebral. O luto o afastou do trabalho por um longo período. “Eu simplesmente não conseguia lidar com filmes e personagens”, revela Williams no documentário. O retorno à música se deu aos poucos, começando com um concerto para violino escrito em homenagem a Barbara. Foi o início de seu retorno aos holofotes — pouco depois ele se tornaria o maestro favorito de Hollywood.