Economia

China desacelera e pode afetar exportações brasileiras; entenda

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Futuro das relações comerciais entre os dois países depende, em grande parte, da capacidade do Brasil em diversificar suas exportações (Crédito: Divulgação)

Por Mirela Luiz

RESUMO

• PIB da China cresce menos de 5% no terceiro trimestre
• Taxa fica bem abaixo do que crescia
• País asiático corta os juros, gerando incertezas sobre o impacto das exportações e investimentos brasileiros

A economia chinesa, que por décadas foi sinônimo de crescimento acelerado, começou a apresentar sinais de desaceleração. No terceiro trimestre de 2024, o PIB da China cresceu apenas 4,6%, o menor avanço em um período de três meses em um ano e meio. A resposta do governo chinês foi rápida: o Banco do Povo reduziu as taxas de juros em 0,25 ponto percentual, com o objetivo de estimular a economia. Contudo, há temores de que essa perda de ritmo possa prejudicar as exportações brasileiras e futuros investimentos no Brasil.

Conforme dados do Departamento Nacional de Estatísticas (DNE) da China, o crescimento econômico, que costumava superar os 10% anuais, agora está abaixo de 5% até agosto de 2024. A crise imobiliária, o envelhecimento populacional e a baixa taxa natalidade são alguns dos fatores que explicam essa desaceleração, gerando incertezas para seus parceiros comerciais, sobretudo o Brasil.

Para Ricardo Rodil, economista e líder do Mercado de Capitais do Grupo Crowe Macro, essa queda pode ter repercussões nas exportações brasileiras. “Essa queda nas exportações tem impactos em cascata, já que a menor oferta de dólares pode aumentar a cotação da moeda no Brasil, desvalorizando o real”, avalia.

Trabalhador opera maquinário de mineração na Zona de Desenvolvimento Econômico de Sihong, Suqian, Jiangsu, na China (Crédito:Costfoto/NurPhoto)

O Brasil, que tem na China seu principal parceiro comercial desde 2009, registrou em 2023 um recorde de exportações para o país asiático, somando US$ 100 bilhões, de acordo com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil).

Produtos como minério de ferro, soja, celulose e carnes seguem em alta demanda, o que garante certa estabilidade no curto prazo.
Além disso, há oportunidades de diversificação no mercado chinês, com o aumento da demanda por produtos de maior valor agregado, como carnes e café premium.
No entanto, os reflexos de uma desaceleração prolongada da economia chinesa podem ser sentidos em outros setores, especialmente nos investimentos.
A China, que vem expandindo sua presença no Brasil em áreas como energia, tecnologia agrícola e infraestrutura, pode rever projetos de grande porte em meio as incertezas econômicas.
Investimentos chineses significativos em regiões como o Nordeste e a Zona Franca de Manaus podem ser reavaliados caso a desaceleração persista. O volume de recursos se reduziu.
O valor investido no País pelos chineses foi o segundo mais baixo desde 2009, US$ 1,73 bilhão investidos no total em 2023, apesar do valor ter sido maior do que no ano anterior.

“Os efeitos das decisões de política fiscal e a manutenção desse cenário podem piorar o panorama inflacionário no Brasil.”
Ricardo Rodil, economista

Para conter esses impactos, o Banco do Povo da China reduziu as taxas de juros. Com a decisão, os juros primários de empréstimo de um ano foram reduzidos de 3,35% para 3,1%. Já a taxa de cinco anos caiu de 3,85% para 3,6%.

Segundo Alexandre Miserani, professor de Economia do Uniarnaldo Centro Universitário, essas medidas podem trazer alívio temporário. “Acredito que o impacto será breve, pois a China é um dos grandes players mundiais, e, a médio prazo, poderá se reverter conforme a economia mundial apresente melhor reação”, afirma. Ele também destaca a influência de fatores geopolíticos, como a guerra no Oriente Médio, que geram cautela em investidores globais.

Atelier de produção inteligente de automóveis na cidade de Yangzhou, na província de Jiangsu, leste da China (Crédito:Meng Delong)

4,6%
foi o crescimento da economia chinesa no 1º semestre de 2024, bem abaixo dos índices tradicionais do país asiático

Ricardo Rodil também aponta que, embora o impacto imediato sobre a economia brasileira seja limitado, os desdobramentos a médio e longo prazo são incertos. “Os efeitos das decisões de política fiscal e a manutenção desse cenário podem piorar o panorama inflacionário no Brasil”, alerta o economista.

Incertezas

Embora o impacto imediato da desaceleração chinesa sobre a economia brasileira seja limitado, os desdobramentos desse cenário merecem atenção. O futuro das relações comerciais entre os dois países depende, em grande parte, da eficácia das medidas adotadas pelo governo chinês e da capacidade do Brasil em diversificar suas exportações, apostando não apenas em commodities, mas também em produtos de maior valor agregado.

A longo prazo, a manutenção de uma balança comercial saudável e de fluxos de investimento dependerá de como ambos os países ajustam suas estratégias frente a um novo cenário global de incertezas econômicas.