A anomia nos EUA

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Ricardo Guedes: "A conversa torna-se um tweet. O que parece que associa é somente o que desassocia" (Crédito: Divulgação)

Por Ricardo Guedes

Émile Durkheim definiu a anomia social como a quebra da ética e dos padrões sociais, na passagem da solidariedade mecânica, que une as comunidades em valores tradicionais, para a solidariedade orgânica, que une funcionalmente
as sociedades modernas, no caso de corrosão de funções.

Os Estados Unidos é um país que vive para a eficiência. Segundo dados do Statista, os Estados Unidos, em uma lista de 15 países pesquisados, é onde menos se gasta tempo comendo por dia, com 1 h e 02 min, à frente do Canadá, com 1 h e 05 min. Os que mais gastam tempo são a França, com 2 hs e 13 min, seguido da Itália, com 2 hs e 07 min. O americano não tem tempo a perder. Quando senta em um restaurante, após no máximo dois minutos, quando recebe o cardápio, é-lhe perguntado “are you ready to order?” Quando acaba de comer, perguntam, “do you want dessert?”; o que, geralmente, o americano não come, no que se apresenta a conta instantaneamente. O americano paga imediatamente e sai feliz para trabalhar. O americano não come, no sentido brasileiro da palavra, mas se alimenta.

Os americanos sempre foram individualistas, na vinda para a América em radical anteposição à Coroa Inglesa, imbuídos do ideal de Adam Smith do mercado como solução para todos os problemas. O país foi forjado na lei e nas armas, na expansão para o oeste e na formação da nação. Lutas e guerras, internas e externas. Mas, mesmo com a violência em sua história, havia um sentido no convívio familiar da América tradicional.

Na busca de maior eficiência, Ray Kroc otimizou a alimentação com o McDonald ‘s, na produção industrial da comida em série, dizimando o sentido da família no almoço e no jantar. As famílias não precisam mais estar juntas, o importante é produzir. O “let us pray” agradecendo a Deus pelo prato do dia diminuiu em intensidade. Perdem as famílias, mas permanecem os amigos, unidos que são em empreendimentos rentáveis.

Com a invenção da internet, e o desenvolvimento dos aplicativos, separam-se os amigos também, no Facebook, Instagram, e no X (ex-Twiter), de Mark Zuckerberg, Kevin Systrom, e Elon Musk, compatriotas do desespero. A conversa torna-se um tweet. O que parece que associa é somente o que desassocia.

O Thanksgiving perde o final da tarde de quinta-feira e a sexta-feira para o Black Friday.

Cresce a soberba e a indiferença, em um mundo em que aumenta a desigualdade social, díspar entre as classes. O desejo passa a ser “o outro”, nas marcas que usam, no estilo exacerbado de vida, nos cliques que dão e recebem na internet. A violência aumenta, individual e coletiva. O desequilíbrio ecológico vem a limitar a ação individual, expondo as suas contradições. E a anomia se instala, na disfunção social.