Brasil

Pane no avião presidencial irrita Lula, que manda FAB e Defesa comprarem outro

Após dar mais de 50 voltas sobre a Cidade do México, em cinco horas e meia, para queimar combustível, no avião presidencial afetado por uma pane, Lula decide comprar rapidamente uma aeronave mais moderna

Crédito: Ricardo Stuckert / PR

Aliviado ao chegar ao Brasil, Lula quer para breve um novo aparelho para voar pelo mundo sem sustos ou preocupações (Crédito: Ricardo Stuckert / PR)

Por Marcelo Moreira

O presidente Lula voltou do México, na semana passada, com uma preocupação que suplantou qualquer chantagem do Centrão ou o descontrole das contas públicas: quanto vale a segurança de um chefe de Estado em viagem internacional ou mesmo em deslocamento doméstico? O assunto não saiu de sua cabeça nas cinco horas e meia em que precisou apertar os cintos e dar mais de 50 voltas sobre a Cidade do México, para queimar combustível e permitir o pouso em segurança do avião presidencial, afetado por pane em um dos motores.

Lula, a primeira-dama Janja e a comitiva brasileira foram ao México prestigiar a posse da nova presidente, Claudia Sheinbaum.

A pane obrigou o comandante a retornar ao aeroporto. O problema é que a aeronave estava pesada, com os tanques cheios de combustível, o que inviabilizava o pouso. Foram necessárias as dezenas de giros, em horas de muito medo e apreensão, para esvaziar os tanques e pousar com segurança. Irritado, o presidente decidiu pela troca.

O avião Airbus A319CJ, comprado em 2004, no primeiro governo Lula, ficou no México para reparos. Ainda na aeronave substituta, o presidente determinou ao comando da Força Aérea Brasileira (FAB) e ao Ministério da Defesa que acelerassem os planos para a abreviar o prazo de compra de um modelo mais novo, moderno e menos sujeito a panes.

Estudos começaram a ser feitos pela FAB ainda no ano passado, a pedido do Palácio do Planalto. O avião presidencial tem uma configuração diferente, que exige reforma e readequação que podem custar até R$ 400 milhões.

A frota da Presidência é composta por outras duas aeronaves, compradas há dois anos no governo de Jair Bolsonaro. São Airbus A330-200 modernos, mas comuns, sem a configuração exigida por Lula:
suíte presidencial com banheiro,
gabinete privativo,
sala de reunião de emergência ou crise,
e dois ambientes para membros de comitivas, ministros e assessores de escalões mais baixos.

A tendência é de que haja a encomenda de um novo A330-200 fabricado na configuração exigida. A reforma de um dos novos, segundo o Planalto, sairia muito cara e não compensaria.

Lula vai viajar para a reunião de cúpula dos Brics, na Rússia, em um modelo A330-200 que tem o código de identificação KC-30. É um aparelho convencional da frota presidencial, que está longe de oferecer o conforto para um chefe de Estado. O áudio entre a torre do aeroporto Felipe Angeles, na Cidade do México, e o piloto do avião presidencial revela muita tensão com a detecção da falha. Em inglês, comunica a ocorrência, pede para fazer uma curva à direita e declara: “Pan-pan, pan-pan, pan-pan”.

(Isac Nobrega)

Medo e irritação

A expressão é listada pela Organização da Aviação Civil Internacional (OACI), também conhecida por sua sigla em inglês ICAO, como um sinal de emergência a bordo. Vem do francês “panne”, que indica uma situação menos grave do que o perigo, em que é usada a palavra “mayday”. Depois de se livrar do combustível, o pouso, apesar do nervosismo, foi feito sem incidentes.

Especialistas afirmam que a troca da aeronave presidencial é recomendável não por conta das duas décadas de operação do A-319CJ, mas da modernização e evolução dos equipamentos.

O que determina a troca, em tese, são condições estruturais de pressão e despressurização. No caso do avião atual, a troca é necessária porque aeronaves mais novas têm equipamentos muito modernos, que enxergam com maior facilidade eventuais problemas e os comunicam instantaneamente aos fabricantes e torres de controle, explica Rafael Santos, que pilota os imponentes e novos Boeing 777.

Modelos mais recentes possuem sistemas que diluem o combustível e o dispensam com muito mais eficiência e rapidez, sem a necessidade de o avião ficar rodando em cima de uma cidade para gastar o líquido.

Antes mesmo do desembarque de Lula o governo se movimentou para oferecer soluções. O tenente-brigadeiro Marcelo Damasceno, comandante da FAB, afirmou que vai recomendar a compra de um novo aparelho com as especificações exigidas. Ele defende a rapidez do processo, sem esperar pelas avaliações sobre os custos de uma eventual reforma dos dois aparelhos que pertencem à frota presidencial. Talvez seja o melhor a fazer para evitar sustos futuros.

O AVIÃO DA PANE
Principais características do aparelho presidencial

Modelo
Airbus A319CJ

Capacidade
45 passageiros

Peso
50 toneladas

Autonomia
11 mil quilômetros

Velocidade média
828 km/h

Data de compra
2004

Configuração
uma suíte presidencial, gabinete privativo, sala de reuniões, área de primeira classe (para ministros e autoridades), área de classe executiva (para assessores e jornalistas)