Prepare-se: a moda dos anos 80 está de volta
Das coleções das grandes grifes ao relançamento de calçados e roupas do passado, a década de 1980 retoma sua força de período que foge à padronização. Os fãs vão dos que foram jovens naquela época aos membros da geração Z que viajam no tempo pelas redes sociais
Por Ana Mosquera
Os anos 1980 foram uma época marcada pela não fixação de um estilo — nada a ver com um estado de anomia, mas, sim, com uma sociedade que respirava após 21 anos de sufoco da ditadura militar. Em 2024, após passar por pandemia e um governo afeito ao retrógrado, uma nostalgia inofensiva não faz mal a ninguém. Assim como as canções que marcaram aquela década são relembradas até hoje – “Vai Passar”, de Chico Buarque, e “Coração de Estudante”, de Milton Nascimento –, algumas de suas tendências fashionistas retornam, agora, ao centro da moda.
Originalmente associados a diferentes grupos, ocasiões e locais – o que se vestia nas boates se diferenciava da camisa branca com o blazer desabotoado das ruas –, elementos visuais antigos voltam combinados aos contemporâneos.
São:
• ombreiras,
• cores neon,
• transparências,
• peças de renda,
• saias transpassadas,
• sapatilhas,
• botas de cowboy,
• e calças largas,
• além do próprio cabelo cacheado.
Nas últimas semanas de moda – Copenhague, Nova York, Paris, Milão e São Paulo –, o oversized teve destaque em grifes como Gucci e Bottega Veneta.
Ao seguir a onda retrô com muito afinco, algumas marcas vêm lançando coleções inteiras inspiradas no passado, como é o caso da Fila em parceria com a New Era: não só os tênis e roupas esportivas da colaboração revisitam a década de 1980, mas toda sua campanha publicitária é ambientada em residências antigas, com seus tocadores de fita cassete, máquinas de escrever e TVs de tubo.
Esses anos brilham, cada vez mais, aos olhos das novas gerações: em uma trend da rede social de vídeos curtos, o TikTok, os filhos dançam junto com os pais as músicas da juventude — deles.
“Por trás dessa lente tem um cara legal”, diz um trecho da canção do grupo Os Paralamas do Sucesso. Dissociados da beleza durante décadas, os óculos de grau a que faz referência a música e as versões de sol que eram sucesso na década de 1980 ocupam, de novo, as vitrines.
Para o lançamento da série que homenageia um dos maiores nomes do esporte mundial, Ayrton Senna, a Persol e a Netflix assinam uma coleção inspirada no piloto e no período. Há desde armação piloto com lentes escurecidas e referências claras àquela usada pelo ícone até um modelo de grau, quadrado, que remete ao objeto habitual do homem fora das pistas.
Foi nos anos 1980 que o conjunto autor de “Óculos” se consolidou e, a partir deles, evoluiu, a exemplo de outras bandas de rock, como Titãs e Barão Vermelho. “Foi uma década singular, porque vivemos a transição do analógico para o digital”, diz Luiz André Alzer, autor de Almanaque Anos 80, cuja nova edição acaba de ser lançada, vinte anos após a publicação original. “Brincávamos de jogos de tabuleiro, como Detetive, War e Jogo da Vida, mas também jogávamos Atari e Genius, que na época eram a mais pura modernidade.”
Só poderia ser um período nada estanque a influenciar o ambiente cada vez mais livre que é a moda no Brasil.