O controle eleitoral do centrão
Por Carlos José Marques
Das urnas saiu uma verdade irrefutável: há uma clara e hegemônica força a controlar o País e atende pela alcunha de Centrão. Aquele mesmo que já dominava o Congresso avançou avassaladoramente sobre prefeituras e câmaras municipais. Campeões em emendas do famigerado orçamento secreto, passarão certamente a monopolizar e mobilizar os recursos de cidades a seu bel prazer — e nem sempre, quase nunca pelo histórico que carregam, em prol do interesse coletivo, comunitário. Não é da natureza dessa turma. Ao contrário, atuam sempre como ocupantes de guetos de votos. Uma prática assistencialista visando a uma espécie de dependência da população de seus préstimos, em troca da fidelidade eleitoral que lhes garanta a permanência no poder. Evidente que no pleito municipalista ficaram de fora, ou quase apagadas, sem maior peso ou influência, as figuras dos caciques maiorais. O presidente Lula e Bolsonaro praticamente não tiveram qualquer relevância nessa corrida às urnas e em alguns casos amargaram derrotas acachapantes. Para o ex-capitão “mito”, a sova no Rio de Janeiro restará inesquecível. O demiurgo de Garanhuns, Lula da Silva, também deverá lembrar para o resto dos dias da regressão histórica do seu partido, o PT, no Brasil como um todo. Talvez, o recado que está saindo das urnas aponte para uma nova opção, até alvissareira, pode-se dizer, contra os extremismos, o populismo sorrateiro e enganador. Ao contrário do que muitos especialistas e setores da elite fazem querer crer, o povo em boa parte sabe escolher. É absolutamente consciente quanto ao que pode lhe trazer melhorias diretas e sempre surpreende no resultado. Os pseudo-salvadores da pátria demonstram estar perdendo espaço e isso é bom. A explosão do acesso à internet também gerou um fenômeno paralelo de ruídos equivocados e algumas novas lideranças vêm se aproveitando disso. É preciso se acostumar com tal realidade que muda hábitos e costumes e coloca de ponta cabeça a disseminação de informações e desinformações. Os candidatos outsiders estão por todos os lados, rearrumando as forças partidárias e a própria disputa. Tradicionais alternativas, antes conhecidas do grande público, ficaram pelo caminho por não usar ou compreender a dimensão dessa ferramenta das redes digitais. Há casos surpreendentes nesse aspecto de quem após inúmeros mandatos foi deixado de lado. De uma forma ou de outra, já nesse último escrutínio foi possível verificar e reforçar que um grande rearranjo político entrou em curso. Dos resultados, naturalmente também é possível depreender que a força da caneta, de quem esta à frente da máquina, continua contando muito. Em São Paulo, com uma disputa renhida e eletrizante, o atual prefeito, por meio das alianças que lhe davam larga margem de vantagem no tempo de tv, com obras públicas inauguradas às vésperas do pleito e muitos postulantes a cargos públicos dependentes de seu aval, pulou na dianteira. No Rio, como no Recife, os atuais prefeitos deram uma surra nos concorrentes. E assim segue o jogo. Mais forte que o apadrinhamento dos velhos caciques, a estrutura financeira e de base de sustentação no entorno ainda conta muito. Daí a projeção que o Centrão acabou obtendo este ano. São imponentes suas vitórias. Os duelos atuais também servem como prévia do que pode e deve ocorrer nas eleições marcadas para 2026. Lula, à frente do Planalto, sai na frente, mas pelos mesmos motivos, de amparo do Estado, Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, como representante de peso da direita, corre na raia paralela com grandes chances, tomando espaço no vácuo deixado pelo agora inelegível Bolsonaro. Loucuras como as verificadas de alternativas do padrão Pablo Marçal devem parar com desfecho deprimente na Justiça. São típicas de uma antipolítica que a maioria não espera ver vingar. São Paulo, por exemplo, respirou aliviada por ter escapado de tamanha delinquência. Independentemente dele, a multiplicação da direita no tabuleiro nacional deu demonstrações eloquentes de ser um fenômeno irreversível. Mais que palavras de ordem ou sonhos esporádicos do radicalismo tacanho, os eleitores premiaram a gestão e o equilíbrio de propostas. A polarização que deitou raízes por essas bandas nos últimos tempos vai perdendo força. E isso é bom. O naufrágio dos extremistas, da agressividade como instrumento de persuasão e do cabresto eleitoral é o que se pode chamar de saldo positivo da corrida que ainda tem um segundo turno em muitos casos.