O país dos golpes (aqui são os que dão grana)
Por Eduardo Marini
Dias atrás, atitudes repetitivas de uma idosa lúcida de 79 anos intrigaram uma funcionária comercial em Toledo (PR). Em seguidas visitas à loja, a simpática senhora torrou R$ 4 mil, quase tudo no crédito, em cartões de crédito para uso de equipamentos da Apple. Questionada pela moça, explicou, com calma e o semblante pacificado dos apaixonados, que fazia as compras a pedido do namorado e as enviava junto com seus dados bancários. A funcionária quis saber mais sobre o Don Juan. “É o Elon Musk. Namoramos pela internet. Ele virá ao Brasil me ver.” Isso: a doce senhora acreditava ter fisgado, à distância, o homem mais rico do mundo. A moça chamou a polícia. Apesar da ajuda do delegado Rodrigo Batista, que cuida do caso, foi difícil convencer a quase octogenária de que o Musk que ela chamava de dela era um canalha que entrava em contato com um celular de código internacional da Nigéria.
O caso exemplifica como a combinação de ingenuidade e desinformação com o apetite incomparável de golpistas para liderar picaretagens transforma o Brasil na maior e mais descarada plataforma mundial de trapaças. Como se viu em 8 de janeiro de 2023, resiste por aqui disposição para golpes de todas as naturezas, mas neste caso se trata dos que atuam não para surrupiar mandatos, mas sim dinheiro e bens.
Há sempre espaço — e do outro lado um incauto — para tudo. Pesquisa Datafolha mostra que foram feitas 4.678 tentativas de golpe virtual por hora no primeiro semestre de 2024. Mais de um por segundo. Os 13 tipos de rolo elencados pelo instituto trouxeram prejuízo de R$ 186 bilhões às vítimas.
O cardápio é, no entanto, mais diversificado. Inclui de mutreta com pix e sorteios falsos, abençoados por influenciadores e sub-celebridades, a botes prosaicos como o golpe dos bichinhos, em que uma corrente elétrica enfraquece as garras de captura dos bonecos de pelúcia nas máquinas em quase todas as tentativas.
Os números do Datafolha impressionam muito mais do que os oficiais por causa da subnotificação. Quase metade dos ouvidos (45%) não fez BO em casos de celulares roubados. Menos ainda (30%) procuraram a polícia por golpes com pix ou boletos falsos. A falta de confiança da população é subproduto do vácuo criado pelo que setor privado e poder público deveriam fazer — e não fazem — diante do problema. Plataformas de internet, que veiculam os golpes, e sistema bancário, de onde sai o dinheiro, deveriam assumir, com maior ênfase e rapidez, a reparação de ao menos parte dos prejuízos das pessoas. Programas de segurança física e digital e estratégias de combate de governos precisam de avanços urgentes. Enquanto isso não ocorre, fundamental é ter cuidado extremo com os dispositivos e, sobretudo, com o que se permite entrar e sair deles.