Comportamento

‘Cura’ de diabetes: cuidado com títulos caça-cliques

Chinesa que passou a produzir insulina a partir das próprias células transformadas em laboratório está com a doença controlada, mas não curada

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Modificadas em laboratório, são foco de várias pesquisas (Crédito: Divulgação)

Por Denise Mirás

As revistas científicas Cell e Nature divulgaram o caso de uma chinesa de 25 anos, portadora de diabetes 1, que foi tratada para “fabricar” a própria insulina e em dois meses já não precisava de aplicações diárias. Mas essa notícia, tratada com irresponsabilidade, induziu pacientes do endocrinologista Carlos Eduardo Couri a acreditar na “cura” da diabetes. O que está longe da verdade, como diz o médico, alertando sobre a irresponsabilidade de serem utilizados títulos caça-cliques em matérias que levam pessoas a pensar que não precisarão mais das aplicações diárias de insulina.

“Diabetes é uma doença autoimune”, explica. “É um problema do sistema imunológico que faz o próprio organismo destruir as células do pâncreas que produzem insulina. A medicina ainda não sabe a causa disso. De todo modo, o sistema imunológico detecta essas células como ‘inimigas’. Daí a necessidade das doses injetadas diariamente para sobreviver.”

No estudo chinês, os pesquisadores retiraram células de gordura da paciente e levaram a laboratório para serem transformadas em “células-tronco embrionárias induzidas” e então serem guiadas para se tornarem produtoras de insulina. “A boa sacada deles são as células com o DNA da própria pessoa. Um processo que poderá, sim, ter seu uso voltado para determinados órgãos, em casos de doenças específicas”, observa Couri, mas não apresentado como “cura de diabetes”, simplesmente. “Veja: no caso dessa doença autoimune, o organismo destrói as células produtoras de insulina. Se introduzirmos células fabricadas para a mesma função… elas também serão aniquiladas.”

A mulher chinesa só não teve aniquiladas essas suas novas células produtoras de insulina porque toma medicamentos imunossupressores para o fígado transplantado. Essas drogas baixam o sistema imunológico, para que o órgão não seja rejeitado. Por tabela, as células transformadas em laboratório para produzir insulina também ‘escapam’ de ser atacadas. Assim, a paciente pode prescindir das injeções diárias do hormônio, mas continua precisando dos imunossupressores.”

A paciente chinesa foi cuidadosamente escolhida, destaca Carlos Eduardo Couri, pelos dois tranplantes de fígado a que foi submetida. “É um caso muito específico. Podemos dizer, sim, que ela está com a diabetes controlada. Mas não falar em ‘cura da diabetes’ — como muitas pessoas já estão sendo levadas a acreditar.”