Novos tempos, nova diplomacia

Crédito: Divulgação

Marco Antonio Villa: "Quem imaginaria que a ainda república comunista [China] fosse a maior parceira comercial da América do Sul?" (Crédito: Divulgação)

Por Marco Antonio Villa

A diplomacia do terceiro governo Lula tem encontrado desafios muito distintos daqueles da primeira década deste século. A hegemonia norte-americana foi substituída por um mundo multipolar e, especialmente, pela forte presença da China em todo o mundo. Quem imaginaria que a ainda república comunista fosse a maior parceira comercial da América do Sul? Este é apenas um dado frente à complexidade das relações internacionais que o Brasil tem de enfrentar buscando preservar os interesses nacionais em um mundo cada vez mais nacionalista, diversamente do que foi propagado pelos epígonos da globalização que levaria ao desaparecimento dos Estados nacionais.

Havia uma boa vontade internacional em relação ao Brasil, principalmente nos países centrais do sistema capitalista — recordando a antiga conceituação dos anos 1960.

A figura de um ex-operário na Presidência da República era uma novidade e um exotismo bem ao gosto dos governos ocidentais.

O boom das commodities e a diminuição das tensões internacionais com o fim da União Soviética, em 1991, e desaparecimento do “socialismo real” na Europa Oriental, transformou os Estados Unidos na única superpotência. Sua relação com a América Latina, marcada na Guerra Fria pelo intervencionismo diplomático e até militar, foi deixado de lado. A prioridade passou a ser as regiões que estavam sob domínio soviético, especialmente a Europa Oriental.

Neste contexto o Brasil teve relativa liberdade para estabelecer uma política externa ousada, muito acima da nossa estrutura econômico-militar. A utilização de generosos financiamentos do BNDES permitiu que tivéssemos uma significativa presença na América Latina e na África. E até pretensões de mediar conflitos internacionais complexos, como o programa nuclear iraniano.

Nos anos 2010 a situação mudou.

De um lado, no campo internacional, a China ampliou ainda mais sua presença na América Latina e África, por outro, no campo interno, a economia nacional entrou em crise. O biênio 2015-2016 foi o pior da história econômica republicana com um crescimento negativo de 7,5% do PIB. Também deve ser lembrado que o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff e as mudanças política (em 2016 assumiu o presidente Michel Temer e em 2019 o presidente Jair Bolsonaro) tiveram impacto direto na política externa e na presença do Brasil nos fóruns internacionais.

Agora em cenário internacional complexo, com uma guerra na Europa Oriental, o renascimento da extrema-direita mundial, um Oriente Médio ainda mais explosivo e o Brasil com uma economia sem o dinamismo dos anos 2000, vai obrigar o governo a estabelecer uma nova política externa. Os recentes acontecimentos na Venezuela reforçam esta tendência.