Fuga dos extremos
Por Germano Oliveira
As pesquisas de opinião pública desta reta final de campanha para as eleições municipais mostram claramente que o eleitor vem abominando a polarização existente entre o bolsonarismo e o lulopetismo. Em praticamente todas as 26 capitais, os candidatos de partidos do centro lideram as consultas populares. Já os candidatos apoiados por Lula ou por Bolsonaro têm dificuldade de se eleger e muitos deles nem no segundo turno estarão. A população demonstra preferência por políticos que fogem dos extremos, tanto do polo da esquerda radical, como PT e PSOL, como da extrema direita, onde transita o bolsonarismo, sobretudo em partidos como o PL.
Um bom exemplo disso acontece em São Paulo, onde a disputa tem registrado empates dentro da margem de erro entre o prefeito Ricardo Nunes, o psolista Guilherme Boulos e o couch Pablo Marçal. Nunes diz ter apoio de Bolsonaro, mas o ex-presidente está totalmente alheio à sua campanha, deixando o afilhado Tarcísio Nunes como o protagonista do bom desempenho da candidatura do prefeito paulistano. O embate maior do alcaide se dá contra o candidato de Lula, mas Boulos só vê o presidente em seus comerciais. Nos eventos de rua, o mandatário está distante. Portanto, a polarização entre os dois nunca aconteceu, desde o início do pleito. Eles devem estar guardando forças para 2026.
Esse quadro é o mesmo nas outras capitais de peso. No Rio de Janeiro, o prefeito Eduardo Paes deve ser reeleito ainda no primeiro turno, mas ele evita dizer que é apoiado por Lula, embora o seu PSD tenha três ministérios do governo. Afinal, Paes está obtendo votos tanto do petismo, quanto do bolsonarismo. O candidato de Bolsonaro na Cidade Maravilhosa, o deputado Alexandre Ramagem, não vinha conseguindo passar dos 18% até a semana passada e vai sofrer uma derrota fragorosa. Bolsonaro também está longe dos palanques do amigo no Rio, deixando esse papel para os obscuros filhos, Flávio e Carlos.
Isso se repete também em Belo Horizonte. Lá, o candidato de Bolsonaro, Bruno Engler, está em terceiro e deverá ficar fora do segundo turno. Já o candidato do PT, Rogério Correia, é o quinto, com 6%. Os dois não passarão para o segundo turno, que deverá contar com o radialista Mauro Tramonte e com o prefeito Fuad Noman. No Recife, o quadro é bem parecido com a situação do Rio. O prefeito João Campos (PSB) deverá ser reeleito com 76%, mas evita dizer que tem o apoio de Lula, enquanto o candidato de Bolsonaro, o sanfoneiro Gilson Machado, do PL, não passa dos 9%. O cenário é tenebroso para o PT de Lula, que pode repetir a situação de 2020, quando não elegeu nenhum prefeito de capital, apesar do partido ainda ter chances de ir para o segundo turno em SP, Goiânia e Teresina. Já os candidatos de Bolsonaro também não têm chance de vencer nas grandes capitais, mostrando que a força que o “mito” diz ter cada vez mais se esgarça.