Economia

Como o Brasil pode se tornar pioneiro do carro voador na América do Sul

Brasil realiza primeiro voo de aeronave elétrica da América do Sul. Equipamento custará cerca de R$ 3,3 milhões e terá uso particular ou por táxi aéreo

Crédito: Divulgação

18 pequenas hélices e 16 motores garantem a segurança do eVTOL (Crédito: Divulgação)

Por Mirela Luiz

A era dos Jetsons, famoso desenho dos anos 60, parece ter chegado à aviação brasileira, que se prepara para um salto tecnológico no transporte de passageiros em curtas distâncias. Na sexta-feira (20), a aviação nacional deu um passo significativo rumo ao futuro com o primeiro voo demonstrativo de uma Aeronave Elétrica de Decolagem e Pouso Vertical (eVTOL) na América do Sul.

Após obter o Certificado de Autorização de Voo Experimental (CAVE) da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), a empresa Gohobby fez dois voos de teste com uma aeronave em um evento no Aeroquadra, condomínio aeronáutico localizado a 80 km de São Paulo. O primeiro durou seis minutos e, o segundo, três minutos e 20 segundos, ambos ainda sem passageiros, conforme determinado pela ANAC. “Desde o final do ano passado sonhávamos com o momento em que finalmente veríamos a aeronave decolar no Brasil. Esse dia chegou”, disse Adriano Buzaid, CEO da Gohobby.

“É uma tecnologia disruptiva, que vai gerar impacto. A expectativa é que o uso do espaço aéreo seja mais democratizado.”
Bruno Galelli Chieregatti, orientador de Aerodesign no Instituto Mauá de Tecnologia (IMT)

O ‘carro voador’ modelo EH216-S da EHang assemelha-se a um drone em tamanho ampliado. Possui 18 pequenas hélices — duas em cada extremidade. Essa inovação oferece uma evolução em relação aos helicópteros, apresentando funcionamento mais silencioso e menor atrito na decolagem e aterrissagem. Buzaid ressalta que essa mudança aumenta consideravelmente a segurança do voo: “No helicóptero, se o motor falhar, o piloto deve realizar um pouso de emergência. No eVTOL, se uma das baterias falhar, o voo continua normalmente, sustentado por 16 motores”, explica.

Modelo chinês é o primeiro a fazer um voo na América do Sul (Crédito:Divulgação)

O acionamento dos motores ocorre de forma mais lenta em comparação a um avião mecânico, onde a partida é instantânea ao apertar um botão. No caso do eVTOL, o veículo só é ativado após ser reconhecido por cada um dos 25 satélites conectados, garantindo uma circulação segura.

Com menor dimensão que um helicóptero Robinson R22, também com capacidade para duas pessoas, o ‘carro voador’ EHang 216-S possui:
5,73 metros de largura,
1,93 metro de altura,
autonomia de 30 km,
capacidade de carga de até 620 quilos,
e velocidade máxima de 130 km/h.

Destaca-se ainda pela facilidade de pouso e decolagem em locais simples, como helipontos em condomínios ou edifícios, sem a necessidade de infraestrutura complexa, como a dos aeroportos. “É uma tecnologia disruptiva, que vai gerar impacto na sociedade. A expectativa é que o uso do espaço aéreo seja mais democratizado”, afirma o professor Bruno Galelli Chieregatti, orientador de Aerodesign no Instituto Mauá de Tecnologia (IMT).

Ehang 216s decolou por volta das 11h30 no interior de São Paulo (Crédito:Divulgação)

Um dos aspectos que mais chama a atenção no eVTOL é sua tecnologia verde e sustentável. Movida por energia elétrica, a carga da aeronave pode ser concluída em até duas horas, com a possibilidade de redução do tempo por meio de carregadores ultrarrápidos.

Além de ser elétrico, o eVTOL chinês é operado remotamente, possibilitando um voo autônomo. “Quando voei nele pela primeira vez, na China, foi estranho, especialmente para um piloto como eu. Mas depois você se adapta e compreende o funcionamento e a segurança do modelo”, diz Buzaid.

De acordo com uma pesquisa da MundoGeo, o Brasil se posiciona como terceiro maior mercado para eVTOLs no mundo, atrás dos Estados Unidos e da China. Grandes metrópoles como São Paulo, assim como áreas remotas com falta de infraestrutura, poderão se beneficiar de serviços eficientes e sustentáveis de mobilidade aérea urbana, que se torna acessível a um público mais amplo.

Lista de espera

Desde dezembro de 2023, a Gohobby apresenta seu ‘carro voador’ ao público brasileiro a um preço estimado em
US$ 600 mil, equivalentes a R$ 3,3 milhões. O interesse pelo produto resultou em uma lista de espera considerável, mas, de acordo com a ANAC, ainda não há previsão de curto prazo para regulamentação e certificação da aeronave no País.

A certificação é imprescindível para que o modelo possa ser utilizado em voos comerciais. “O Brasil é um país com muitas regulamentações. Precisamos buscar um equilíbrio para evitar restrições excessivas”, adverte Chieregatti. Neste momento, como ainda não há regulamentação específica para eVTOLs, o carro voador da EHang está enquadrado no regulamento dos drones. A inovação do eVTOL promete transformar o transporte aéreo e a mobilidade urbana, alterando definitivamente as formas de locomoção.

Empresas no Brasil e no mundo com projetos em andamento

Eavy Air Mobility: Embraer e Gênesis-X1 (Brasil);
VX4 : Vertical Aerospace (Reino Unido) que inclusive já recebeu uma encomenda de 250 unidades da Gol, que planeja usá-la no Brasil a partir de 2025;
Joby Aviation e Archer Aviation (EUA);
Volocity e Lilium GmbH (Alemanha);
EHang: saiu na frente por aqui e já tem exemplares licenciados operando com passageiros no céu da China.