Brasil à mostra: as novas mensagens da moda nacional
Por Ana Mosquera
Aos que adoram estar circundados por roupas e longe de shoppings, a exposição “60 Anos da Moda Brasileira” acaba de abrir as portas em São Paulo. Alocada no Museu A CASA do Objeto Brasileiro, a mostra integra o projeto do Núcleo de Moda e Design, com realização do Instituto São Paulo de Arte e Cultura e Secretaria da Cultura, Economia Criativa e Indústria Criativas, orgãos também paulistas. Da década de 1960 à de 2010, ela oferece aos visitantes a chance de mergulhar na trajetória e na pluralidade da área no País. Com entrada gratuita, a viagem não se restringe a rememorar grandes nomes e movimentos do passado: ela se conecta com o presente, na escolha dos criadores alinhados com os temas vigentes, e com o futuro, ao se preocupar com a redução do impacto ambiental.
“A moda é um espelho das transformações sociais, e essas peças refletem leituras de jovens artistas que trazem à tona discussões essenciais, como gênero, inclusão, representatividade, ancestralidade e preconceito”, diz Walquiria Caversan, curadora da exposição, ao lado de Nina Florsz.
A profusão de tecidos, cortes e cores – que estampam da Tropicália à arte de rua –, tampouco fica para trás na exibição. “Isso sugere um futuro que valoriza tanto a tradição quanto a inovação, abrindo caminho para criações que são atemporais, inclusivas e conectadas com as questões sociais e culturais da atualidade”.
O estilista Chesller Moreira é o responsável pela instalação central, Relógio Cronológico, que homenageia seis personalidades da moda com seis visuais, a começar em 1960, com Dener Pamplona de Abreu, e terminando em 2010 com Walério Araújo. Estudos dos períodos e atenção às experiências contemporâneas são aliados na tradução das diferentes épocas em peças atuais.
“Carlos Tufvesson [homenageado de 2000] é um dos maiores estilistas de noiva do País. Eu mantive o branco, mas introduzi o upcycling, construindo o vestido com retalhos de tecidos, de gramaturas e texturas diferentes”.
Segundo ele, os diferenciais trazidos pelos novos designers são:
• a sustentabilidade,
• o antielitismo,
• e uma cadeia mais horizontal.
“Se avançássemos para 2020, eu faria um look com camiseta de algodão orgânico e calça de alfaiataria com bolsos, de tecido reutilizado. Algo prático e sustentável, como pede a moda responsável em meio à crise climática”.
Espírito do tempo
São sessenta peças, seis décadas de história e 29 criadores — todos formados no projeto social Ponto da Moda. “A síntese é alcançada por meio de interpretações pessoais, que envolvem tanto o conhecimento da história, cultura e moda quanto subjetividades que também fazem parte de uma memória coletiva”, diz Caversan.
Basta um balançar da peça de Thayná Ferraresi, que pende do teto com a frase “Caminhando contra o vento”, para sensibilizar os visitantes: dos fãs de Caetano Veloso aos que sofreram com a ditadura militar.
Amparados na história, sem serem datados, atores escancaram recados de outras épocas junto a novas mensagens que a moda tem a capacidade de trazer: as do espírito do tempo.