João Campos: o herdeiro de Arraes vai bem no voto e no amor
Com potencial de se reeleger no primeiro turno, o prefeito de Recife é a grande aposta de renovação do PSB para articular as forças de esquerda no enfrentamento à extrema direita na sucessão de Lula
Por Vasconcelo Quadros
A duas semanas das eleições municipais, o provável cenário traçado pelas pesquisas é amplamente desfavorável à esquerda na imensa maioria das 27 capitais. Mas há uma exceção: Recife. Lá, se tudo correr como rezam os levantamentos de opinião pública, o prefeito João Campos (PSB) deve vencer no primeiro turno com expressiva votação, resultado que aponta para um possível rearranjo das forças progressistas do país para enfrentar o crescimento da direita e extrema-direita. Bisneto do lendário Miguel Arraes e herdeiro do ex-governador Eduardo Campos, que teve a carreira interrompida pela morte em acidente aéreo em plena campanha presidencial em 2014, aos 30 anos, o prefeito forma com a namorada, a deputada Tabata Amaral, candidata à Prefeitura de São Paulo, o casal de políticos com um pé no Nordeste e outro no Sudeste, sobre o qual o PSB aposta suas fichas num ousado plano nacional que vem sendo costurado nos bastidores para as disputas de 2026.
O PSB tem, no entanto, outras duas estrelas cintilantes:
• uma ao centro, o vice-presidente Geraldo Alckmin, que governou São Paulo por quatro mandatos,
• outra à esquerda, o ministro Flávio Dino (STF).
Mas se a renovação se colocar como imperativo das novas safras que sucederão o presidente Lula, o prefeito do Recife já é colocado como alternativa.
O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, não faz segredos. “O João Campos é a nossa principal aposta”, cravou à ISTOÉ. “Ele tem um perfil político capaz de representar essa renovação. É jovem, inteligente, dedicado, estudioso e é um sucesso em matéria de política e administração pública. Não é uma cópia do pai nem do bisavô, por ter personalidade e pensamentos próprios”.
Ele se elegeu deputado federal em 2018, renunciou em 2020 para concorrer à Prefeitura e, caso se reeleja, pode disputar o governo de Pernambuco em 2026. Como é improvável que Lula deixe de disputar a reeleição, é um dos políticos que devem chegar prontos em 2030, numa safra em que estarão enfileirados outros personagens da esquerda, como o deputado Guilherme Boulos (PSOL), que ainda depende de uma vitória no confuso empate triplo em São Paulo para encorpar a trajetória.
“Seria importante que o Boulos passasse pela experiência do executivo para a gente ver como ele funciona”, alfineta Siqueira, que não esconde uma ponta e felicidade ao comparar os dois perfis: João Campos chegou à Prefeitura aos 26 anos e está tão bem avaliado que deve que deve liquidar a fatura logo no primeiro turno. Todos os institutos dão a ele uma margem entre 74% a 77% das intenções.
Líder nas redes
O cientista político Sérgio Ferraz, da Universidade Católica de Pernambuco, diz que João Campos conseguiu se firmar como liderança num curto espaço de tempo articulando ações administrativas em toda a capital e dominando, ao mesmo tempo, a linguagem e manejo das redes digitais, o que não é comum na esquerda. “Ele não é mais apenas o filho do Eduardo Campos. Num mundo sob ataque de uma extrema direita cruel e violenta, João Campos é um contraponto”.
Ferraz acha que o prefeito e Tabata despertam curiosidade pela parceria política e amorosa que une duas realidades regionais bem diferentes: “O aspecto interessante é o fato de um político nordestino raiz, de uma classe média vinculado a lutas populares, mas que não uma ideia de São Paulo, se relacionar com uma paulistana que sai da periferia, foi para Harvard e tem uma carreira brilhante e promissora, mas que também não conhece o Nordeste. É um casal inserido na modernidade, que já não tem a hierarquia de gênero, cada um com um projeto independente, mas iguais e sem subordinação. É uma novidade interessante”.
Casal no poder
São muitos os casais que dividem a cama, a mesa e a política. Mas raros os que vivem tão distantes um do outro, embora envolvidos no mesmo processo eleitoral, tendo como alvo prefeituras de municípios muito diferentes. João Campos administra o favoritismo no Recife, enquanto Tabata Amaral, ambos do PSB, se esforça para sair de um quarto lugar distante dos três primeiros.
Os dois se conheceram em 2020 quando o prefeito de Recife, deputado federal em primeiro mandato, se tornou vice-presidente da Comissão de Educação da Câmara. Reunião vai, reunião vem, um jantar aqui outro acolá, e de repente o rapaz se declara, pedindo a colega em namoro como recomendam os bons modos, sem cantadas nem toques que pudessem caracterizar o temido assédio.
O gesto tirou o sono da deputada, que conta ter telefonado para uma amiga de madrugada para desabafar. “Esse menino pirou”. Mas ele não desistiu. Os dois estão juntos há quatro anos e vivem uma relação que a política deve unir ainda mais. Os dois têm 30 anos, vivem o amor e a política, representam o que há de novo para enfrentar os desafios de uma direita extremista que só cresce no País.