Coluna

Lições da eleição em São Paulo

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Cristiano Noronha: "Em São Paulo, parece ter havido um descolamento de Bolsonaro do bolsonarismo" (Crédito: Divulgação)

Por Cristiano Noronha

Há muito tempo não se via uma disputa tão acirrada pela Prefeitura de São Paulo. Pela importância política e econômica da cidade, o pleito desperta a atenção dos observadores da cena política do País.

Quem ocupou a Prefeitura dessa capital viu o próprio nome ser projetado como uma das alternativas à Presidência da República. José Serra (PSDB), Fernando Haddad (PT) e João Doria (PSDB) confirmam essa afirmação.

Serra foi candidato ao cargo de presidente em duas oportunidades (2002 e 2010). Na primeira, foi derrotado por Lula, na segunda, por Dilma Rousseff (PT). Haddad concorreu em 2018 e perdeu para Jair Bolsonaro (PL). João Doria venceu as prévias do PSDB em 2022, mas não chegou a ser candidato por rixas dentro do partido.

Há hoje uma inusitada situação no pleito da cidade, com o empate técnico entre três candidatos, conforme as pesquisas de opinião. Certamente teremos uma decisão em dois turnos, em outubro. Mas, no cenário atual, é difícil prever entre quais candidatos. Guilherme Boulos (PSOL), Ricardo Nunes (MDB) e Pablo Maçal (PRTB) estão tecnicamente empatados em todas as sondagens disponíveis, com cerca de 20% cada um.

A novidade é Pablo Marçal, que se apresenta como candidato antissistema, de direita, sem grande estrutura partidária, mas dominando bem as mídias sociais. Há quem o compare a Jair Bolsonaro nas eleições de 2018.

Vale ressaltar que Bolsonaro apoia a candidatura do atual prefeito, Ricardo Nunes, que tenta a reeleição. Em São Paulo, o índice de reeleição é de 50%. Marta Suplicy (2004), Gilberto Kassab (2008), Haddad (2016) e Bruno Covas (2020) concorreram à reeleição. Apenas Kassab e Covas conseguiram.

Em São Paulo, parece ter havido um descolamento de Bolsonaro do bolsonarismo. Isso mostra que, se ele não conseguir reverter sua condição de inelegibilidade, como é a tendência, a transferência de seu prestígio eleitoral não será automática. Dependerá muito de que candidato ele irá apoiar. Outro desafio para o bolsonarismo é evitar uma divisão da direita para 2026.

O eleitorado de São Paulo está dividido, de forma geral, entre um candidato de esquerda (Boulos), de centro (Nunes) e de direita (Marçal). Interessante observar que quando os extremos se encontram nas simulações de segundo turno, eles apresentam uma votação muito parecida.

Em um eventual segundo turno, Ricardo Nunes, candidato visto como o mais moderado, venceria com mais folga qualquer um dos dois adversários: Guilherme Boulos (49,7% a 33,6%) e Pablo Marçal (50,1% a 27,7%). Não à toa Nunes aposta no voto útil do eleitor de centro para vencer no segundo turno.

Vale ressaltar, ainda, que o embate político na disputa pela Prefeitura da maior cidade do país tem chamado mais a atenção pelo baixo nível das discussões do que pelas propostas dos candidatos.