Mostra de Anish Kapoor inaugura centro cultural Casa Bradesco, em SP

Por Felipe Machado

O britânico de origem indiana Anish Kapoor é um dos grandes nomes da arte contemporânea na atualidade. Sua obra mais conhecida, Cloud Gate, é uma gigantesca estrutura espelhada em formato de feijão, instalada ao ar livre na praça principal do Millennium Park, em Chicago, nos EUA. Tem dez metros de altura e pesa cem toneladas. Composta por 168 placas de aço inoxidável, reflete com perfeição tudo o que está em seu entorno. No local reúnem-se milhares de pessoas, todos os dias, em busca de selfies refletidas em comunhão com o cenário ao redor, o céu, a natureza e o magnífico desfile de arranha-céus. Ao longo de sua superfície brilhante e perfeita, a escultura revela a beleza exterior do mundo, tanto das pessoas em volta, quanto do ambiente onde repousa.

O conceito é diametralmente oposto ao da exposição Inflamação, que Kapoor inaugura esta semana no Brasil. “A paisagem exterior é uma abstração do visível, mas é na paisagem interior que encontramos a realidade invisível”, escreve o curador Marcello Dantas no texto de apresentação. “É um convite para contemplar o que existe para além do que vemos, o que sentimos internamente.”

Inflamação é uma exposição que olha para dentro. Como tal, só poderia ser representada por um tom predominante: o vermelho, cor do sangue, da carne, do fogo. É composta por 18 esculturas elaboradas em diferentes épocas, além de Blinded by Eyes, Butchered by Birth (Cega pelos Olhos, Massacrada pelo Nascimento), criada especialmente para a ocasião. “Comecei trabalhando com pigmentos e sempre me interessei por cores. A cor faz algo conosco, é ao mesmo tempo física e não física, o que é surpreendente”, afirma Kapoor. “A cor não é um meio decorativo, não fica na superfície das coisas. É uma entidade.”

Não é apenas o vermelho que fascina o artista. Há uma série batizada de non-objects (não-objetos) marcada pela aplicação da tecnologia Vantablack. É a substância mais escura já produzida pelo ser humano, chegando a assimilar até 99,96% da luz visível. Kapoor utiliza o material para explorar temas como a escuridão e o desespero. O resultado pode ser visto em Descent Into Limbo, que exerce um efeito fascinante sobre o público: a obra absorve o olhar de maneira magnética, criando um vácuo onde todo o resto parece desaparecer.

Criatividade em alta

A mostra marca a abertura da Casa Bradesco, novo e espetacular centro cultural com cinco mil metros quadrados em pleno coração da cidade, a um quarteirão da Avenida Paulista. “Inaugurar a Casa Bradesco com uma exposição dessa importância, e com uma obra inédita feita exclusivamente para o novo espaço, é um presente para a sociedade que poderá conhecer de perto toda a irreverência e autenticidade de um dos maiores artistas da atualidade”, afirma Nathalia Garcia, diretora de marketing e CRM do Bradesco.

O local é mais uma propriedade a integrar a Cidade Matarazzo, complexo criado pelo empresário francês Alex Allard que inclui ainda o Rosewood Hotel, o hub ecológico Aya Earth Partners e a SoHo House, além de outras iniciativas gastronômicas e comerciais que serão inauguradas em breve. “A Cidade Matarazzo tem o propósito de regenerar e inspirar uma nova sociedade. Vamos reinventá-la junto com a Casa Bradesco, um lugar cujo tema central é a criatividade”, diz Allard.

Kapoor encerra explicando o título da exposição: “Inflamação está, primeiramente, associada a condições médicas, como um inchaço, mas também tem muito a ver com o espaço. O objeto que tem espaço dentro de si e possui uma pele, mesmo que com apenas alguns milímetros de espessura, pode ocupar um volume, o vazio.”