O risco das más influências
Por Felipe Machado
Apesar de me considerar uma pessoa bem informada, confesso que ouvi o nome “Deolane Bezerra” pela primeira vez essa semana, quando ela foi presa em Pernambuco sob acusações de lavagem de dinheiro.
Ao saber que sua profissão era “influencer”, a curiosidade me levou ao Instagram para saber quantos seguidores ela tinha: 21,5 milhões.
Fiquei estupefato. Como assim? O que essa pessoa faz para atrair tanta gente? Ao ver o conteúdo de Deolane, lembrei imediatamente da profética frase de Umberto Eco: “as redes sociais deram voz a uma legião de imbecis”. Continuei, porém, sem compreender uma questão essencial: quem são esses milhões de pessoas que a seguem? E, algo ainda mais crucial… por que segui-la?
Há muito conteúdo bom na internet. É possível acompanhar artistas, pensadores, escritores, jornalistas. Então, por que raios alguém perde tempo seguindo uma pessoa como Deolane Bezerra?
Há muito conteúdo bom na internet. Então, por que alguém perde tempo seguindo uma pessoa como Deolane Bezerra?
A profissão de influencer tem de ser regulamentada. Ao ultrapassar os dez mil seguidores, deveriam ser obrigados a obedecer a um Código de Ética. Como o nome diz, o poder de influência que eles exercem sobre gente ignorante e manipulável é muito perigoso. Basta ver que Pablo Marçal, candidato que propõe espalhar teleféricos pela cidade, pode se tornar prefeito de São Paulo.
Muito à frente da Justiça, o crime organizado percebeu que está com a faca e o queijo nas mãos. Ninguém sabe direito como esses influencers ganham tanto dinheiro, o que os transforma em veículos perfeitos para uma atividade ilegal: a lavagem de dinheiro. Em uma terra sem lei como a internet brasileira, esconder o lucro do tráfico de drogas e outros delitos debaixo do cachê de influenciadores é brincadeira de criança.
Há outro dado bastante preocupante e que está intimamente relacionado com essa falta de regulamentação da internet. Relatório publicado pela Visa, em 2023, aponta que o Brasil é o segundo País com mais risco de fraudes digitais, atrás apenas da China. Só no ano passado, cerca de 80 mil brasileiros foram vítimas de golpes online. Parabéns para a gente.
As redes sociais devem ser regulamentadas urgentemente. Mas o pior Congresso da história, dominado pela extrema direita, nunca fará isso. Afinal, esses políticos são os maiores beneficiados pela proliferação desenfreada de fake news e ataques à democracia. A culpa é nossa: viramos um povo refém das más influências.