Comportamento

O Japão é contra o #sextou; entenda

Funcionários se recusam a usufruir benefícios do governo que diminuem a carga semanal de trabalho

Crédito: Luiz cesar pimentel

Operários japoneses rejeitam a oferta do governo de labutarem menos em troca de uma vida mais saudável (Crédito: Luiz cesar pimentel)

Por Carlos Eduardo Fraga

A pós três anos de uma campanha realizada pelo governo japonês para promover jornadas mais curtas aos trabalhadores, apenas 8% das empresas do país resolveram adotar a ideia. De acordo com o Ministério da Saúde, Trabalho e Bem- Estar Japonês, a iniciativa “hatarakikata kaikaku” (inovação na forma de trabalho) não foi um sucesso popular, ao contrário do que se acreditava. Um exemplo disso aconteceu com os 63 mil funcionários da empresa Panasonic Holdings. Apesar de poderem folgar na sexta-feira, trabalhando somente quatro dias na semana e descansando em três, somente 150 empregados aceitaram.

“Inemuri”: ato de dormir em locais públicos, como estações de metro e vagões, é visto como prova da dedicação profissional (Crédito:Yoshikazu Tsuno)

Isso se deve ao fato de a cultura japonesa ser notoriamente focada no trabalho. Em um país que possui expressões para “morte por excesso de trabalho” e “trabalhar até morrer”, esses excessos são vistos com bons olhos pelos cidadãos.

Apesar de 85% das empresas declararem dar dois dias de folga por semana e de existirem obrigações legais sobre horas extras, os empregados costumam descansar apenas uma vez na semana ­— e trabalham além do horário sem registrar as horas extras.

“O trabalho aqui não é apenas uma maneira de ganhar dinheiro, embora também seja isso. Os japoneses tendem a valorizar os relacionamentos com os colegas e formar um vínculo com suas empresas”, afirma Tim Craig, autor do livro Japão Legal: Estudos de Caso das Indústrias Culturais e Criativas.

O fenômeno tem levado ao declínio populacional. As mortes anuais ultrapassam o número de nascimentos há 15 anos . Por se dedicarem muito aos empregos e realizarem longas jornadas, deixam seus relacionamentos pessoais em segundo plano — não namoramm e nem casam, deixando de gerar filhos. Em uma nação que possui a segunda população mais velha do mundo, com um terço de idosos, e que tem uma das maiores expectativas de vida, 84,8 anos, a queda populacional é alarmante. Até 2060, os idosos irão corresponder a cerca de 40% da população japonesa.

*Estagiário sob supervisão de Luiz Cesar Pimentel