Coluna

Além da cerca de arame farpado

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Laira Vieira: "É necessário lutar contra as injustiças e a falta de humanidade, para evitar a repetição dos erros do passado – que infelizmente continuamos a cometer" (Crédito: Divulgação)

Por Laira Vieira

Poucas histórias conseguem capturar a essência da inocência em meio à violência, com a mesma profundidade e sensibilidade que o drama O Menino do Pijama Listrado.

O filme lançado em 2008, e dirigido por Mark Herman (Toque de Esperança, Na Maior), é baseado no livro homônimo de John Boyne, e oferece um retrato comovente da infância e da barbárie, uma alegoria dolorosa sobre a separação e a compreensão em tempos de desumanização.

A trama se desenvolve durante a Segunda Guerra Mundial quando Bruno (Asa Butterfield), um menino alemão de oito anos que vive em Berlim com a sua família, se muda para uma casa isolada perto de um campo de concentração, pois seu pai, um oficial nazista, foi promovido. Bruno acha que o campo de concentração é um tipo de “fazenda estranha” e sem entender o verdadeiro propósito da instalação, o solitário menino faz um novo amigo: Shmuel (Jack Scanlon), um menino judeu de sua idade, que diverte Bruno por estar usando um “pijama listrado”, está preso no campo de concentração. Assim nasce uma inusitada amizade separada por uma cerca de arame farpado.

Bruno tenta entender a situação do seu amigo, sem preconceito ou ódio, mas a desconexão entre o que ele aprendeu e a realidade ao seu redor é grande, e destaca a importância de uma educação que promova a empatia e o pensamento crítico. O fato dele não entender o que está acontecendo evidencia a forma como a idolatria e a propaganda podem distorcer a percepção e desumanizar os outros, exatamente como as fakes news nos dias de hoje.

Como escreveu Albert Camus:

“A verdadeira generosidade para com o futuro consiste em dar tudo ao presente”. E assim, ao assistir ao O Menino do Pijama Listrado, somos compelidos a refletir sobre como nossas ações e ideologias irão moldar as futuras gerações. É necessário lutar contra as injustiças e a falta de humanidade, para evitar a repetição dos erros do passado – que infelizmente continuamos a cometer.

A película é uma reflexão profunda sobre a natureza da humanidade, a responsabilidade moral e a importância de cultivar a empatia e a compreensão desde a infância. Somos desafiados a revisar nossa própria perspectiva sobre o mundo e a considerar como podemos, individualmente e coletivamente, promover uma sociedade mais justa e humana. A atitude passiva dos adultos no filme é um lembrete sombrio de como a conformidade e o silêncio podem permitir que atrocidades aconteçam.

Embora as guerras e conflitos se transformem, as lições sobre a humanidade e a conexão entre indivíduos devem ser constantemente revisitadas e valorizadas – e o quanto a desinformação, idolatria e passividade podem ser perigosas.