Um modelo de inspiração
Paris 2024 recebeu recorde de países para os Jogos Paralímpicos, encerrados nessa semana e que foram transmitidos por 225 emissoras de TV. Brasil quer melhorar posição do sétimo lugar de Tóquio 2020, conquistando ao menos 80 medalhas
Por Denise Mirás
Jogos Paralímpicos são uma intersecção entre entretenimento e evento de transformação e Paris 2024, quebrando vários recordes ainda na metade de seu programa, de investimentos a público, consolida seu crescimento. Assim, a importância desse evento esportivo é atestada pelo legado em cidades-sede nos anos seguintes às competições. Essas são observações de Andrew Parsons, o brasileiro que preside o Comitê Paralímpico Internacional (IPC na sigla em inglês) e já testemunhou ganhos excepcionais em capitais como, por exemplo, Pequim 2008, Londres 2012 e Rio 2016. Desta vez, os cerca de 4.400 atletas, com recorde de mulheres, representando 168 delegações, segundo o IPC. O Brasil comparece com sua maior delegação, somando 280 atletas (255 com deficiência) e a meta de alcançar 80 medalhas, melhorando a sétima colocação de Tóquio e batendo a marca de 72 medalhas, 22 delas de ouro, nas disputas adiadas para 2021 por causa da pandemia.
Ciro Winckler, professor de Esporte Adaptado e da pós-graduação em Ciências do Movimento Humano e Reabilitação na Unifesp, observa que esta geração está em seu ponto de equilíbrio, com atletas da geração Rio 2016 ainda com grandes resultados, assim como os que eram mais jovens à época e novos talentos chegando e convencendo. “No atletismo, por exemplo, o Brasil caminha para sua melhor participação, para chegar em terceiro lugar. Os carros-chefe ainda são atletismo e natação, mas temos grandes resultados com canoagem, taekwondô e vôlei sentado. Fora o universo da deficiência visual, com uma confederação de excelente gestão por vários ciclos, o que permitiu estruturar bem suas modalidades.”
Para ele, campeonatos brasileiros potentes e mais investimentos são a base do bom desempenho nos Jogos, assim como marcos que se iniciam com a fundação do Comitê Paralímpico Brasileiro em 1995 e vêm, em ordem cronológica, com a Lei Agnelo/Piva e a verba de loterias, o Bolsa Atleta, o patrocínio da Caixa, a inauguração em 2016 do Centro Paralímpico (considerado hoje o melhor do mundo, pela reunião de 15 modalidades em um só local) e os Jogos do Rio 2016, “com seu maior legado, que foi a Lei Brasileira de Inclusão”.
Legado revolucionário
Hoje, nada menos que 1,2 bilhão de pessoas, tem alguma deficiência — 15% da população mundial. E pela primeira vez na história, os 8 bilhões têm chance de assistir ao vivo as 22 modalidades dos Jogos Paralímpicos, distribuídas por 1.450 horas de transmissão adquiridas por 225 emissoras de tevê — outro recorde — por 12 dias, terminando no domingo, 8 (além de streamers da web, plataformas digitais, sociais e de áudio).
“Não queremos só provocar o interesse, mas indicar como dar continuidade à prática esportiva.”
Ramon Pereira, diretor de Desenvolvimento Esportivo do CPB
Andrew Parsons fala da importância dos Jogos destacando o anúncio de R$ 125 milhões de euros para tornar acessível todo o sistema de transporte de superfície de Paris, além do projeto de 20 anos para o metrô como um todo, ao custo de 20 bilhões de euros.
O dirigente ainda cita mudanças de legislação urbana e na área educacional (“Todo parisiense agora já conta com escola inclusiva a 15 minutos de casa, em uma verdadeira revolução”) que devem se desdobrar pela França: todos os 3 mil clubes se tornarão inclusivos, com infraestrutura e capacitação de professores para treinar pessoas com deficiência.
Verbas garantem vitrine para inclusão
Claudiney Batista, ouro no disco; Jerusa Geber, ouro nos 100m, com bronze de Lorena Spoladore; Yeltsin Jacques, ouro nos 1.500m; Júlio César Agripino, ouro nos 5.000m, os dois com recorde mundial; Petrucio Ferreira, ouro nos 100m; Thalita Simplício, prata nos 400m; Bartolomeu Chaves, prata nos 400m… Esses talentos surgem e se consolidam graças a investimentos federais, como os R$ 223 milhões da Lei das Loterias para o CPB em 2023, os R$ 35 milhões da CAIXA e os R$ 77 milhões do Bolsa Atleta para este ano, fora os patrocínios privados.
Com isso, são organizadas Olimpíadas Escolares, como cita Ramon Pereira, diretor de Desenvolvimento Esportivo do CPB, e ainda campings que apontam nomes para períodos no CT em São Paulo, a Escola Paralímpica com oito modalidades, os festivais, com manhãs de lazer ao lado de crianças sem deficiência em todos os Estados,
(à exceção do Piauí) onde foram abertos 74 Centros de Referência (CRs). Ramon destaca ainda a prática esportiva principalmente para acidentados em Centros de Reabilitação, de maneira a que dêem continuidade em um CR.