Tênis é o esporte mais fascinante
Por Luiz Cesar Pimentel
Tive plena convicção disso durante a entrevista do espanhol Carlos Alcaraz, atual 3º colocado no ranking, após a zebra de ser derrotado pelo holandês Botic van de Zandschulp, 22º, por 3 a 0 no US Open, um dos quatro principais torneios do ano. Antes da constatação a partir do tenista-fenômeno de 21 anos, é necessário contextualizar o que torna o tênis tão desafiador.
Todo esporte que inclui um apetrecho entre o praticante e a bola já parte de exigência de precisão bem acima da média. Some a isso a habilidade que é necessária para manusear a raquete com a destreza necessária para as infinitas possibilidades de golpes na bolinha de feltro. Não esqueçamos da resistência, já que uma partida em nível profissional pode chegar facilmente às três ou quatro horas de duração. Só que precisão, habilidade e resistência não garantem nada caso não haja agilidade para a defesa do espaço de 130 m2, que cada metade da quadra possui.
Por enquanto estamos nos requisitos físicos, pois a prática ganha complexidade ao quadrado quando são exigidas
as disciplinas mentais obrigatórias.
A primeira é uma combinação de instinto com capacidade de antecipação do adversário. Essa vou explicar pela Física para montar meu ponto. Um golpe típico de jogador profissional sai à velocidade de 140km/h da raquete dele
e leva uns 0,8 segundo para chegar ao oponente. Um saque alcança facilmente 200 km/h, e atravessa a área de disputa em 0,6 segundo. O cérebro consome 0,3 segundo somente para reagir à informação da bola, restando 0,3 segundo para toda a execução da mecânica do movimento de rebatida. Sabe o pulinho que os tenistas dão antes de responder uma bola? Não é charme atlético — o nome disso é split step, quando as pernas são afastadas na diagonal do quadril para que a reação ganhe agilidade. O restante do tempo é ocupado por combinação de leitura do movimento do oponente com reação quase involuntária à trajetória da bola, treinada em repetições constantes, na exigência da antecipação citada.
Até aqui já temos cinco competências exigidas. A sexta e que foi manifesta por Alcaraz na entrevista pós derrota é o equilíbrio mental (termo popularmente substituído por concentração). O espanhol já conquistou dois dos quatro torneios do Grand Slam na temporada — Wimbledon e Roland Garros, que por sí formam polos opostos na velocidade de bola, um na grama (mais rápida) e outro no saibro (mais lenta). Ganhou também o importantíssimo Indian Wells, além de recém saído da Olimpíada de Paris com uma medalha de prata.
Era franco favorito contra o holandês e para vencer o terceiro Grand Slam em 2024. O que o impediu? “Não quero usar como desculpa, mas o jogo foi uma luta contra o oponente e contra mim mesmo na minha cabeça”. Quão fascinante é um esporte (ou seja lá o que for) com essa quantidade de variáveis? (Em memória do Big 4: Roberto Marcher, Rowen Rodosly, Glaucio Pimentel e Sydney Butch Munn.)