Tempo é dinheiro

Crédito: Divulgação

Rachel Sheherazade: "Não se respeita mais o tempo. Saímos de um desamor para um novo amor em questão de dias. Não há mais tempo para o luto, a dor, a solitude, a solidão" (Crédito: Divulgação)

Por Rachel Sheherazade

O dia 21 de agosto foi o último da curta vida de Natalie Stichova, uma ginasta tcheca que morreu ao despencar de uma montanha na Baviera.

A jovem de 23 anos decidiu tirar uma selfie para as redes sociais quando caiu de uma altura de 80 metros. Um segundo, dois… e, no tempo de um clique, a vida se foi.

Parece impressão ou a vida está passando mais rápido?

Nos resta tão pouco tempo que é preciso correr com tudo. Para economizar o tempo, não vivemos o momento e preferimos registrá-lo.

Tudo o que experimentamos precisa ser clicado e imediatamente compartilhado. Com a cartilha do mundo virtual, aprendemos que se não postamos é porque não vivemos.

E é preciso viver mais e melhor que todo mundo. De preferência, uma vida instagramável, com pele de filtro, corpos malhados, viagens exóticas, famílias perfeitas…

Desde a democratização das mídias sociais, todos querem viver do glamour e da fama, exibindo o quão irretocáveis e significativas são suas meras vidas.

Cada clique tem, por trás, toda uma produção, afinal nenhum resquício de realidade pode vazar das nossas vidas de ilusão.

Camas bagunçadas, o café requentado, as olheiras de uma noite mal dormida, os remédios para ansiedade e depressão… tudo jogado para debaixo do tapete.

É que a vida está passando muito rápido, então é preciso viver tudo, senão não valeu a pena. É preciso ter tudo, senão a vida foi um fiasco.

Na vida de faz de conta, os fracassos não existem e viramos a soma de conquistas que obtivemos: quanto dinheiro juntamos, quantas promoções obtivemos, quantas viagens fizemos, quantos relacionamentos vivemos…

E tudo tem que ser rápido. Não se respeita mais o tempo. Saímos de um desamor para um novo amor em questão de dias. Não há mais tempo para o luto, a dor, a solitude, a solidão.

Fico tentando imaginar quando essa corrida insana começou.

Talvez tenha se acelerado com a revolução industrial, quando o trabalhador passou a ser confundido com a máquina.

Seu valor passou a ser medido em quanto ele poderia produzir.

E assim somos até hoje. Nossa valia está em quanta vida nós abdicamos pelo trabalho. Caímos no conto da produtividade. De que uma vida para valer a pena tem que ser ocupada, frenética, produtiva…

Claro, enquanto estamos na corrida de ratos, não questionamos por que nossa força de trabalho é tão desvalorizada, por que ao final de um mês de trabalho, dedicação e produtividade nos resta tão pouco ou quase nada para viver de fato.

Porque, na ideologia do capital, não fomos feitos para viver o ócio nem o prazer. Isso é privilégio dos empresários, dos bilionários… a nós, cabe trabalhar, sem reclamar. E ser grato pela oportunidade de ser usado, abusado, extorquido, esvaziado e por fim descartado.