Comportamento

Memorabilia atinge valores estratosféricos

Trajes de figuras icônicas e objetos de magnatas são leiloados por altas cifras em todo o mundo. Além do valor financeiro, colecionadores de raridades acumulam histórias afetivas sobre itens exclusivos

Crédito: André Lessa

Além das notas e moedas que datam do Brasil Império, o empresário Adriano Lopes possui 1.300 vinhos que valem R$ 3 milhões (Crédito: André Lessa)

Por Ana Mosquera

Quem guarda sempre tem. Não é qualquer um, porém, que foi tocado pela sorte de possuir a camiseta com que Michael Jordan jogou a primeira partida das finais da NBA, em 1998 — leiloada por US$ 10 milhões (cerca de R$ 57 milhões). Na última semana, a camiseta do time de beisebol New York Yankees usada por Babe Ruth nas finais de 1932 foi vendida por US$ 24,1 milhões (R$ 136 milhões), tornando-se o colecionável esportivo mais caro da história. O valor desse mercado deve chegar a US$ 230 bilhões (quase R$ 1,3 trilhão) em 2032 e o The Athletic, caderno de esportes do The New York Times, lançará uma seção exclusiva para cobrir o tema.

As raridades podem não atender a todos os bolsos, mas diferentes gostos são contemplados. Os apaixonados por ciência mais abastados já podem dar lances virtuais aos objetos científicos do espólio do cofundador da Microsoft Paul Allen, falecido em 2018, que irão a leilão ainda em setembro, em Nova York. Em meio ao patrimônio de US$ 20 bilhões (cerca de R$ 113 milhões), há cartas de Albert Einstein a Franklin Delano Roosevelt sobre a descoberta alemã do urânio usado como combustível nuclear, o traje espacial com que o astronauta Ed White foi pioneiro ao caminhar no espaço e o diário de bordo da Apollo 8, primeira missão tripulada a circundar a Lua.

Falecido em 2018, cofundador da Microsoft Paul Allen terá objetos leiloados, como o computador Apple I (Crédito:Elaine Thompson/AP Photo)
(Divulgação)

Financeiro e afetivo

Para além de possuir um ou dois itens importantes, há quem acumule raridades carregadas não só de valor financeiro, mas afetivo. O empresário e autor do perfil Gordo Profissional, Adriano Lopes, iniciou a coleção de notas e moedas por influência do avô, que as comercializava na Praça da República, em São Paulo, e cedeu seus primeiros exemplares, guardados até hoje no mesmo baú. Por trás do dinheiro físico estão as histórias: ele possui uma moeda holandesa, comum naquele país, mas que foi encontrada em solo brasileiro à época da invasão do Nordeste. “Será que houve um conflito e a pessoa deixou cair essa moeda?”, pergunta-se ele. Cardápios, cartões de hotel e crachás de eventos são outros itens guardados por Lopes, que em outras fases da vida já reuniu chaveiros e calendários. “Acho que tem relação com meu perfil psicológico. Gosto de acumular objetos e organizá-los.”

US$ 10 mi (R$ 57 milhões): regata do Chicago Bulls vestiu Michael Jordan no primeiro jogo das finais da NBA de 1998 (Crédito:Zeca Ribeiro)

Iniciada há dez anos, a reunião de vinhos também vem acompanhada de acontecimentos importantes: foi o primeiro gole no tinto português Mouchão Tonel 3-4 (que hoje vale cerca de R$ 1.500) que despertou sua paixão por esse universo. Apesar de participar de leilões e eventos de troca, ele nunca pensou em vendê-los: “Estou cogitando começar a beber os vinhos, mas fico com dó, já que não tenho muitos repetidos”. Hoje, em meio às quase 2.000 garrafas que possui entre São Paulo, Miami e Portugal, a mais cara é o Porto Taylor’s 1863, que custa R$ 50 mil no Brasil. O maior valor, para ele, contudo, é outro: “O mais raro é o vinho que meu pai me deu antes de falecer, quando fiz 40 anos”.

US$ 24,1 mi (R$ 136 milhões) Camiseta do New York Yankees usada por Babe Ruth é o colecionável esportivo mais caro da história (Crédito:Divulgação)

ALÉM DAS QUADRAS
Times de futebol lançam camisetas comemorativas em homenagem a bandas de rock e também a líderes políticos

Há mais similaridade entre os fãs de rock e futebol do que se imagina. Não é incomum, pelo Brasil e o mundo, que
os times lancem camisetas especiais homenageando bandas e datas. Assim como no esporte, há rivalidade nas edições especiais.
Depois de o Manchester United lançar camiseta e jaqueta em homenagem à finada banda britânica Stone Roses, o Manchester City se prepara para colocar no mundo uma peça dedicada ao retorno do Oasis — os irmãos Noel e Liam Gallagher são fanáticos por esse time e rivais confessos do outro.
Distante da música, o Madureira Esporte Clube lançou um exemplar que traz o rosto de Che Guevara sobre a estampa da bandeira de Cuba — nas costas, o número 50 representa o aniversário da visita da agremiação carioca àquele país, ocasião em que o médico guerrilheiro assistiu à partida.

Preta, com tipologia do Sex Pistols e logo do patrocinador de pé: nova camiseta do Chelsea reverencia o punk (Crédito:Divulgação)