Internacional

Papa volta à estrada com a mala cheia de alertas políticos

Em sua mais longa viagem e com sentido de urgência sob seus 87 anos, o pontífice Francisco fecha o circuito pelo Sudeste Asiático com propósitos eclesiásticos, mas também políticos

Crédito: Tatan Syuflana

Mensagens do Papa Francisco destacam tolerância religiosa, defesa de direitos humanos e preservação da natureza (Crédito: Tatan Syuflana)

Por Denise Mirás

Se a viagem programada para dez dias e pelo menos 32 mil quilômetros, entre voos e deslocamentos em terra por quatro países, pode ser encarada como um desafio gigantesco para alguém com 87 anos e dificuldades de locomoção, também mostra a determinação do Papa Francisco em cumprir com urgência tarefas importantes para deixar de legado como pontífice.

É sua 45ª viagem, a mais extensa e com maior duração de todas — de 2 a 13 deste mês —, passando por Indonésia, Papua-Nova Guiné, Timor Leste e Singapura, em que os compromissos eclesiásticos se combinam com aspectos políticos bem claros.
O Papa Francisco carrega importantes alertas sobre direitos humanos e destruição da natureza.
Mas também sobre tolerância à diversidade racial, religiosa e cultural, simbolizada já no desembarque em Jacarta, capital da Indonésia, pelo encontro com o grande imã Nasaruddin Umar no Túnel da Amizade — um corredor subterrâneo que liga a Mesquita Istiqlal à Catedral de Nossa Senhora da Assunção.

Vladimir Feijó, professor de Relações Internacionais da UniArnaldo de Belo Horizonte, diz que “o Papa visita seus companheiros da Companhia de Jesus — que, além do ensino, mais recentemente assume um papel importante em defesa daqueles que vivem sob governos autoritários”. E ainda destaca a mensagem embutida nessa viagem, de que a Igreja está atenta à complexidade de uma região onde é latente a possibilidade de um grande confronto internacional pela área que se estende do Mar do Sul da China ao Oceano Índico. “Depois de Japão, Coreia do Sul e Filipinas, dentre outros países, ele fecha o circuito no Sudeste Asiático. E já tem outra viagem marcada para Luxemburgo e Bélgica, no fim deste mês.”

Vigília pela paz

Do ponto de vista teológico, a Igreja Católica reforça seu crescimento no continente asiático, que hoje representa o futuro do mundo sob vários aspectos, de religiosos a ecológicos, adicionando o “fermento” na missão de servir ao bem comum, como diz Luciano Gomes dos Santos, professor de Ciências Sociais da UniArnaldo. “Na Indonésia, por exemplo, há uma discriminação crescente contra as minorias religiosas e a disposição do Papa é pelo diálogo. O encontro com o líder Umar reconhece a riqueza e a diversidade das religiões, mas também que todos os seres humanos são irmãos e irmãs e devem fortalecer laços de fraternidade e paz.”

Para a Igreja Católica, o continente asiático representa o futuro do mundo, sob vários aspectos

Conhecendo crenças e práticas diferentes, segue o professor, é possível superar preconceitos e conflitos em um continente de grande diversidade religiosa. “Os católicos podem descobrir novas dimensões da própria espiritualidade e refletir sobre religiões unindo forças para enfrentar desafios como pobreza, injustiça e questões ambientais.”