O drástico corte de verbas, contratos e auxílios-moradia no Itamaraty
Por Antonio Carlos Prado
Não é de hoje que o Itamaraty enfrenta problemas financeiros. Mas agora a sua situação de apertar o cinto se agravou consideravelmente: embaixadas e consulados-gerais terão tesourados repasses de verbas. O quanto será retirado não fora divulgado até a quarta-feira, dia 4, mas uma circular avisa que “despesas recorrentes e compra de material de consumo deverão ser adiadas, e contratos precisam ser renegociados”. “Se quebrar o carro da embaixada, não tenho dinheiro para consertar. É um desastre”, declarou o embaixador Arthur Nogueira, presidente da Associação de Diplomatas Brasileiros (ADB). Uma série de reclamações vem ocorrendo nos últimos tempos por parte de funcionários que estão a serviço fora do Brasil. Uma delas é que o auxílio-moradia tem atrasado e, sem ele, torna-se impossível pagar, apenas com o dinheiro do salário, os altos aluguéis cobrados em alguns países – muitas vezes requeridos antecipadamente. Quem mais tem sofrido em relação à moradia são os diplomatas brasileiros que estão na Zâmbia, na região sul da África. O Itamaraty pede R$ 200 milhões para o Ministério das Relações Exteriores não paralisar.
“Só teremos recursos para os contratos que já existem. Se quebrar o carro da embaixada, não tenho dinheiro para consertar.”
Arthur Nogueira, presidente da Associação de Diplomatas Brasileiros
LITERATURA
Chega ao País o famoso Verão de Lenço Vermelho
Acaba de ser lançado no Brasil Verão de Lenço Vermelho, livro de autoria da famosa escritora russa Elena Malíssova em parceria com a ucraniana Katerina Silvánova. O romance fez com que Elena saísse da Rússia, tantos e tão ameaçadores foram os ataques que recebeu do alto escalão do governo por ter construído uma história cujos protagonistas são dois adolescentes gays – na terra de Fiódor Dostoievski, um dos principais escritores e perscrutadores da alma humana, a literatura só presta se agradar o preconceituoso do autocrata Vladimir Putin. Em Verão de Lenço Vermelho, o personagem Iura, já adulto, resolve retornar ao acampamento em que na adolescência vivenciou o amor mais intenso de sua vida, com um garoto chamado Volódia. A relação de ambos, no livro, teve inicio na década de 1980, sob o obscurantista regime comunista da extinta URSS, país que considerava o homossexualismo uma doença. A URSS desmoronou (a porção democrata do planeta agradece até hoje), mas pouca coisa mudou no campo das liberdades individuais. “É desumana, cruel e injusta a homofobia do governo”, diz Elena.
ORIENTE MÉDIO
Israelenses no limite
O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, pediu perdão em púbico às famílias dos seis reféns mortos pelo Hamas cujos corpos foram agora descobertos, e lamentou não ter conseguido resgatá-los com vida. O fato de se desculpar está longe, no entanto, de ele compreender que o bom senso no conflito seria ter ouvido israelenses e líderes de nações que pediram que aceitasse um acordo de paz. Por que é possível afirmar isso? Porque ao pedido de perdão, o próprio Netanyahu emendou que o confronto não terminou e se recusou a retirar as tropas de Gaza. Ele insiste no extermínio dos terroristas do Hamas, sem perceber que o Hamas, hoje, não é somente um alvo físico, mas é uma nefasta ideologia do terror que, infeliz e tragicamente, se espalha pelo mundo. Natanyahu não está errado em tentar extirpar o Hamas; peca, isso sim, no método de não anuir com um acordo. Em Jerusalém e Tel Aviv ocorrem manifestações, como jamais lá foram vistas, reunindo milhões de pessoas a exigirem que o premiê aceite proposta de paz. Estima-se que ainda haja cento e seis reféns nas mãos criminosas do Hamas — todos apanhados no covarde ataque a Israel em outubro passado. A resposta bélica do governo israelense foi condenada pela desproporcionalidade por Cortes Internacionais, e Netanyahu enredou-se na teia política que teceu: se aceitar, agora, um acordo e retirar as tropas, ele ficará frágil a tal ponto que parecerá rendição — terá de renunciar. Se mantiver a linha atual de atuação, verá Israel cada vez mais convulsionado e cairá do poder. Em renunciando ou caindo, perderá a prerrogativa da imunidade e corre o risco de ser preso, já que assim determinaram os tribunais.