Ditador Maduro não quer conversa e espalha o terror
Dezenas de mortes e milhares de prisões retratam a repressão de Nicolás Maduro à frente da Presidência da Venezuela. Acuado internamente, e isolado até por antigos aliados, se vale de medidas populistas para tentar se manter no cargo
Por Denise Mirás
Pretensioso e esperto, Nicolás Maduro mantém a ganância pelo poder e o cargo de presidente da República pisoteando adversários com violência e empilhando incertezas cada vez mais preocupantes quanto ao futuro da Venezuela. Acuado no país e isolado externamente mesmo por antigos aliados, o herdeiro de Hugo Chávez tem em sua conta, apenas neste ano, pelo menos 30 mortos e 2.400 presos, incluindo menores de idade. A “democradura” venezuelana se sustenta pela eleição do fim de julho, com a fraudulenta reeleição de Maduro. O que esperar da população? Para quem consegue, emigrar, é a saída. Para quem fica o caminho são os confrontos abertos e acirrados contra a máquina governamental do ditador. E da parte de Maduro é a escalada da repressão sem precedentes. O cenário é desalentador.
Em perspectiva histórica, o presidente venezuelano se distancia do preceptor, diz Flavia Loss, professora de Relações Internacionais do Instituto Mauá e coordenadora de pós-graduação da FESPSP: “Não havia questionamento de eleição na época de Chávez, que se mostrava mais maleável. Sabia a hora de reprimir e de distensionar. Maduro vem em uma escalada de autoritarismo”. Com mandato fraudado, pretende seguir no cargo até 2031.
Esse crescimento da violência, segundo Flavia, se acentua porque Maduro sente a oposição mais forte pela piora da situação econômica, com a falta de investimentos estrangeiros e o sucateamento da infraestrutura petroleira. “O país se tornou muito dependente desse setor e, com sua deterioração, não entrega o que o projeto chavista prometia: melhora da qualidade de vida. Assim, Maduro dobra a aposta diante dos protestos na rua, com assassinatos e detenções.” A mais recente foi a ordem de prisão expedida contra Edmundo González Urrutia, candidato à Presidência da República, que está foragido desde que mostrou provas de sua vitória nas urnas.
Apagão no País
Com mais esse ato ditatorial, Maduro provocou nota de repúdio do Brasil e da Colômbia, que citam a violação do Acordo de Barbados, em que o venezuelano se comprometeu, em outubro de 2023, com eleições transparentes e livre participação dos opositores. Finalmente, Celso Amorim, assessor especial de Lula, admitiu que “não aceitamos” prisões políticas, como é o caso do candidato da oposição venezuelana, e destacou que o Brasil ainda não reconheceu a vitória de nenhum dos dois candidatos, visto que aquela situação eleitoral “não está resolvida”. “Internamente, Maduro se vê acuado, e externamente, isolado. Mesmo por aliados da esquerda na América do Sul”, destaca Flavia.
Além da crise econômica, ainda mais assombrada pelos apagões de energia, outro fator importante (“sócio-psicológico” como observa a professora) da revolta popular são os mais de sete milhões que deixaram o país, a maioria de jovens. “A Venezuela é muito família, até mais que o Brasil. Mesmo quem apoia o chavismo se incomoda com esse rompimento de laços. A Corina [María Corina Machado, candidata barrada à eleição por Maduro] sabia explorar bem isso: a ausência de filhos emigrados por causa da situação econômica, que os pais querem de volta.”
Diante do que se vê nas ruas, nem é preciso medir a força do ditador, que fechou a questão: nada de diálogo, nem com a oposição, nem com os enviados internacionais. “Como ele não é um político hábil, inteligente ou carismático, não sabe como lidar com isso, além de reprimir manifestações violentamente e abrir cofres para medidas populistas”, diz Flavia, citando o “Natal adiantado para outubro” — que na verdade trata do dinheiro de benesses para presentes e festas liberado pelo governo antecipadamente. Em 2013, ele fez isso para “levantar os ânimos” da população, após a morte de Chávez. “Depois, passou a usar o tema como cortina de fumaça.” Qualquer solução para a crise deve ser decidida dentro da própria Venezuela, conclui Flavia.