Editorial

Musk tenta bagunçar o coreto

Crédito: Toby Melville

Carlos José Marques: "Musk quer aumentar a capilaridade de seus canais digitais na base das mentiras e difamações" (Crédito: Toby Melville)

Por Carlos José Marques

A petulância imperialista daqueles que pensam estar acima da lei porque contam com o poder do dinheiro atingiu decibéis máximos na conduta do bilionário fanfarrão norte-americano Elon Musk. O que estabelece a postura do dono da Tesla é muito elementar: desobedeço sim a Lei de qualquer nação, faço o que bem entendo e quero ver me peitarem. Ele retirou qualquer representação de sua “X”, antigo Twitter, do Brasil contrariando frontalmente a exigência de representantes de qualquer companhia no País e a licença de operação foi cassada. Simples assim. A espuma em cima do caso serve apenas e tão somente para incendiar as redes de apóstolos extremistas numa espécie de falsa “guerra santa” contra o sistema. Balela para fazer o show bombar. Musk quer aumentar a capilaridade de seus canais digitais na base das mentiras e difamações. Anarquizar qualquer princípio de governança. O sisudo jornal inglês, Financial Times, classificou Musk como “um míssil geopolítico desgovernado”. Faz sentido. Sacudir as entranhas do poder com irregularidades parece ser o seu modo de vida. Mas na hora que o dinheiro conta é outra história. Na China comunista, onde a sua fabricante de carros mantém forte base, ele não dá um pio sobre o regime, comunista ou nem, ou condenando as conhecidas arbitrariedades dali. É o silêncio conveniente do lucro fácil que fala mais alto. A pseudo liberdade de expressão alegada por Musk não passa da tentativa de buscar um salvo-conduto para barbarizar, insultar líderes mundiais e quem mais lhe der na telha. Ele quer na prática gerar instabilidade para reinar na polêmica, desestabilizando o que vê pela frente. E, claro, na rota de um líder tresloucado existem sempre cordeirinhos amestrados a seguir os mandamentos do chefe. Por aqui, os supracitados golpistas e bolsonaristas em geral são os primeiros ferrenhos torcedores a imaginar o Brasil flambando em fogo baixo. De “patriotas” essa turma nunca teve nada. Apostam no pior. De todo modo, ao contrário do que tentou promover Musk, o Brasil é, sim, um País seguro para investidores estrangeiros e tem mostrado isso em diversas ocasiões. Os próprios atestam isso. Especialistas lembram que a Bolsa de Valores por aqui tem batido recorde de movimentações. Não há receio em trazer recursos para cá. O ministro do Supremo, Alexandre de Moraes, que iniciou o confronto com o empresário fazendo valer a Lei, associou a atividade do “X” ao 8 de janeiro, numa tentativa golpista padrão “Festa da Selma”. Seu colega de Corte e presidente do STF, Luís Roberto Barroso, apontou que em nenhuma hipótese é aceitável a quem quer que seja não cumprir ordens judiciais – “nem aqui, nem em qualquer lugar do mundo”. O cordão de apoio às decisões do magistrado Moraes foi unânime numa votação em plenário. Existem alguns recados implícitos nessa postura conjunta do colegiado. A primeira: que a liberdade de expressão realmente tem limites previstos na Constituição e que a todos, sem exceção, cabe respeitá-los. Outro alerta é o de que o Supremo Tribunal não irá mais ser condescendente, indulgente, com afrontas abertas e deliberadas aos seus preceitos. Também fica evidente que a regulamentação das redes sociais deverá daqui para frente avançar à galope. Mais importante: o fôlego financeiro, o tamanho do canhão, não assusta a tropa de juízes e ai de quem ousar tentar o teste. As penas vêm sendo implacáveis. Musk por sua vez tenta criar uma narrativa de perseguições para bombar entre simpatizantes. Gosta do papel e o exerce em inúmeras ocasiões. É de sua natureza. Conquistou uma plêiade de adeptos ainda mais generosa por aqui, demonstrando que a tática trás frutos (mesmo que estejam podres). A resistência do bilionário com a ameaça da Starlink de não cumprir a decisão de retirar o “X” do ar foi pífia. Não resistiu um dia. O Governo Federal, por intermédio do presidente Lula e do vice Alckmin, apoiou a decisão da Justiça. Alckmin chegou a dizer que Moraes salvou o Brasil. Não foi para tanto, mas realmente serviu e funcionou como uma eloquente mensagem de que por aqui existem regras. E são para serem cumpridas, sem distinções. Vitória republicana.