Precisamos voltar a fazer política
Por Marco Antonio Villa
O noticiário político brasileiro é recheado diariamente pela angústia, pela permanência, como se a roda da história não se movimentasse ou, ao menos, não na velocidade necessária. Os problemas nacionais são suficientemente conhecidos. O nó górdio é a forma de enfrentá-los. É sabido que qualquer questão pública é uma escolha que envolve interesses quase sempre opostos. A unanimidade é uma exceção raríssima, quase inexistente. Daí que a democracia tem de ser obrigatoriamente a convivência de contrários sob um regime legal construído com a participação popular.
A capacidade de buscar acordos parlamentares é essencial ao bom andamento de qualquer governo. Estamos – e não é de hoje – sem condições de que o trânsito congressual de medidas importantes ao País passem por uma discussão republicana e não sejam tratadas como se fossem meros instrumentos para algum tipo de barganha. Já não causa estranheza acompanharmos que em troca de alguma aprovação de uma medida provisória ou de um projeto de lei, líderes de uma maioria sempre volátil se arvorem ao direito de receber algum tipo de contrapartida do poder executivo.
A permanência desta curiosa forma de gestão de conflito acaba imobilizando ações mais ousadas do governo pois a cada passo é preciso constatar se haverá ou não condições de aprovação. Desta forma, vive-se administrando o varejo do País e da política, sem qualquer planejamento dos fins a serem obtidos. O debate fica restrito – e de forma acalorada – às medidas pontuais, o caso do déficit público é um bom exemplo. Difícil encontrar um político que defenda a irresponsabilidade fiscal. Isto posto, fica a pergunta: para onde vamos? Quais são nossos objetivos estratégicos? Ou vamos viver eternamente de nostalgia, de um Brasil que não mais existe há décadas?
Sem exagero, o debate econômico nunca foi tão pobre. Analisamos questões importantes – é verdade –, mas sem a visão de totalidade. As partes não formam um todo. É como se tivéssemos um Brasil partido, fragmentado em inúmeras partes, e que não consegue se recompor em uma unidade. Perdemos a capacidade de escolher caminhos que exijam esforço, projeto, planejamento. Tudo se esvai numa discussão tosca recheada de frases feitas e marcadas pela agressividade e falta de conteúdo programático. A “lacração” nas redes sociais substituiu a reflexão, a análise científica dos fenômenos da política. Isto impossibilita governar pois a maior parte do tempo é ocupada pela troca de xingamentos, acusações, notícias falsas e “memes”.
O desafio mais importante da democracia brasileira é recolocar a política no centro do palco das grandes decisões nacionais. As eleições municipais poderão ser o início deste longo caminho. A ver.