Comportamento

Perdidos no espaço: a dura vida dos astronautas presos na Estação Espacial

Crédito: Divulgação

Butch Wilmore e Suni Williams: recursos limitados e resiliência (Crédito: Divulgação )

Por Mirela Luiz

RESUMO

• Missão que deveria durar oito dias tornou-se pesadelo para casal de astronautas norte-americanos
• Presos na Estação Espacial Internacional após problemas com a cápsula que os traria de volta à Terra, terão de esperar carona em nave da SpaceX, de Elon Musk
• A nave só conseguirá resgatá-los em fevereiro de 2025

 

Os astronautas norte-americanos Butch Wilmore e Suni Williams vivem desde o mês de junho uma situação bastante inusitada na Estação Espacial Internacional (ISS). O que deveria ser uma missão de apenas oito dias se transformou em uma estadia prolongada, com o retorno previsto apenas para fevereiro de 2025. O atraso se deve a problemas técnicos na cápsula Starliner, da Boeing, que apresentou riscos à segurança da tripulação e os forçou a permanecer em órbita por mais tempo que o planejado.

A história pode parecer enredo de filme de ficção científica, mas é a mais pura e angustiante realidade. Wilmore e Williams, que participaram da primeira missão tripulada da Starliner, estão a cerca de 320 km da superfície terrestre, racionando recursos e implementando duras medidas de sobrevivência, como a reciclagem da urina. Enquanto isso, enfrentam os efeitos adversos da microgravidade, que podem resultar em danos ao corpo humano, incluindo envelhecimento acelerado e perda de massa muscular. Além das questões físicas, os desafios psicológicos de uma permanência indeterminada no espaço também preocupam.

“Por mais que estejam preparados, a microgravidade afeta significativamente a musculatura, a parte inflamatória e a imunidade dos astronautas. Ainda não temos uma conclusão definitiva sobre como esses períodos longos podem afetar o corpo humano, mas sabemos que as alterações vão muito além das condições básicas”, afirma o cardiologista Fernando Costa, da Beneficência Portuguesa de São Paulo.

“Os riscos de exposição à radiação cósmica podem ter implicações sérias para a saúde em longo prazo.”
Roberto Menezes, astrofísico do Instituto Mauá de Tecnologia

Danos ao corpo humano

O astrofísico Roberto Bertoldo Menezes, professor do Instituto Mauá de Tecnologia, também alerta para a necessidade de investigar os perigos que podem ser causados pela radiação cósmica. “Os riscos de exposição são consideráveis e podem ter implicações sérias para a saúde em longo prazo. Quanto mais tempo você fica no espaço, mais danos isso causa ao seu corpo. É realmente um envelhecimento acelerado, de certa forma. O fato de você não estar trabalhando contra a gravidade significa que seus músculos não estão trabalhando tão duro quanto normalmente fariam”, alerta.

Durante a acoplagem inicial da Starliner à Estação Espacial Internacional, em junho, houve falhas nos propulsores e uma série de vazamentos de hélio, gás utilizado para estabelecer os limites de pressão sobre o equipamento.

● A Boeing iniciou imediatamente os testes para tentar compreender a causa do problema, mas o curto prazo levou a NASA a recorrer à SpaceX para trazer os astronautas de volta. Foi uma das mais importantes e dramáticas decisões tomadas pela agência espacial nos últimos anos.

A Boeing esperava que a missão de teste da Starliner trouxesse redenção à empresa, após anos de problemas de desenvolvimento e mais de US$ 1,6 bilhão acima do orçamento estimado desde 2016. A Boeing também vem lidando com problemas de qualidade na fabricação de aviões comerciais, seu produto mais importante.

Starliner: problemas nos propulsores impediu a volta tripulada à Terra (Crédito:Divulgação )

Carona de volta

Apesar das dificuldades, os astronautas continuam dedicados à pesquisa na ISS. Williams expressou otimismo: “Passamos por muitas simulações e sinto confiança de que, se necessário, poderemos encontrar a melhor forma de voltar para casa”. Enquanto esperam por uma solução, Wilmore e Williams utilizam recursos limitados e reciclam a urina como parte de sua rotina. “Parece nojento, mas é só água pura de novo”, comentou Suni, ressaltando a resiliência necessária para enfrentar tais adversidades.

A Starliner retornará vazia à Terra no início de setembro, com o piloto automático ativado, de acordo com Bill Nelson, chefe da NASA.

O sistema de propulsão da nave oferece muitos riscos para trazer a tripulação de volta em segurança, informou a agência espacial. NASA e Boeing seguirão coletando dados dos testes da Starliner durante o voo de volta. A dupla de astronautas vai voltar de carona com a Crew Dragon, da SpaceX, empresa do milionário Elon Musk.

A missão, no entanto, está prevista somente para fevereiro de 2025. Dois assentos da nave estarão vazios, liberados para o retorno de Wilmore e Williams.

Quem são os tripulantes em órbita

(Divulgação)

Butch Wilmore, de 61 anos, é um capitão aposentado da Marinha americana, natural de Mount Juliet, Tennessee. Casado e pai de duas filhas, ele já acumulou 178 dias no espaço ao longo de sua carreira, incluindo missões militares no Iraque e na Bósnia. Esta é sua terceira missão na ISS.

Suni Williams, de 58 anos, é astronauta da NASA desde 1998 e tem em seu histórico duas missões espaciais e um total de 50 horas e 40 minutos de caminhadas no espaço. Com uma carreira diversificada que inclui operações de socorro e experiência em ambientes extremos, Williams é uma figura destacada no universo da exploração espacial.