É impossível gostar de profissão que se ignora

Crédito: Divulgação

Eduardo Marini: "Um programa nacional que envolvesse governos e iniciativa privada, numa combinação séria de investimentos em formação e campanhas de esclarecimento sobre as possibilidades das novas profissões, daria novas cores à realidade" (Crédito: Divulgação )

Por Eduardo Marini

Algumas contradições brasileiras são difíceis de entender. As relacionadas ao mercado de trabalho, ainda mais. Primeiro, notícias alvissareiras. A taxa de desemprego apurada pelo IBGE no trimestre fechado em junho, de 6,9%, é a menor em dez anos. Especialistas acreditam que o País está próximo de atingir, tecnicamente, o pleno emprego. Para muitos isso já ocorre, se o índice percentual considerado for o que permite manter a economia dentro da meta de inflação, caso atual. De forma inédita, mutirões de emprego realizados por empresas em 2024 resultaram no preenchimento de todas as vagas. O primeiro semestre do ano foi o mais generoso da última década em termos de reajustes salariais: 87,2% superaram a inflação, atesta o Boletim Salariômetro da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE).

Agora, as nem tanto. Apesar do percentual menor de desempregados, o grupo dos sem trabalho ainda reunia, em junho, 7,542 milhões de pessoas.

É gente demais: um Rio de Janeiro e uma Santo André (SP) inteiros de esperançosos. Um estudo feito pela Confederação Nacional de Bens, Serviços e Turismo (CNC) a pedido do jornal O Estado de S. Paulo acaba de ser retirado do forno com dados incômodos. Quatro a cada dez das 231 empresas que empregam 80% dos trabalhadores formais do País (92, ou 39,8% do total) enfrentam falta de mão de obra.

Do outro lado, ironicamente, brasileiros perdem, aos montes, oportunidades de seguir carreiras técnicas sólidas por falta de conhecimento das profissões e insistência pessoal em bater nas mesmas teclas. Não se pode gostar do que se ignora. Um programa nacional que envolvesse governos e iniciativa privada, numa combinação séria de investimentos em formação e campanhas de esclarecimento sobre as possibilidades das novas profissões, daria novas cores à realidade. No ranking das 20 profissões mais escassas, aponta a CNC, 16 fazem parte do setor de serviço, três da construção civil e uma da indústria. Na líder em carência, a de helpdesk, profissional que apoia usuários de serviços de informática, ele, como vários de outras ocupações da lista, pode ter nível técnico ou superior.

O salário médio de contratação do helpdesk subiu 16,6% entre os meses de junho de 2023 e 2024. A média geral foi de 5,8%. Seguem o líder, na ordem, agente de vendas de serviços, caldeireiro industrial de chapas de ferro e aço, montador de estruturas metálicas em construção civil e auxiliares de farmácia de manipulação e de garçonete. Todas funções técnicas. Ao contrário do que muitos pensam por aqui, o sol não brilha apenas para super formados e especializados. Faltam técnicos. Cursos e campanhas amenizariam problemas, mas poder público e iniciativa privada precisam se coçar. De preferência em parceria.