Cultura

Collabs: parcerias milionárias agitam o cenário musical global

Diferentemente das parcerias musicais do passado, quando artistas se uniam para celebrar estilos complementares, as collabs atuais são grandes jogadas de marketing com estratégias digitais que rendem milhões

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Lady Gaga e Bruno Mars: ao somarem forças, ampliam ainda mais o alcance de suas carreiras (Crédito: Divulgação )

Por Felipe Machado

Uma das ideias mais antigas da indústria fonográfica está de volta com força total: juntar dois grandes artistas para gravar uma canção. Mania nos anos 1960 e 1970, retorna com uma roupagem moderna e estratégias comerciais bem mais agressivas — são as collabs, expressão em inglês usada para batizar a febre da colaboração criativa entre dois nomes em evidência.

Na era do streaming, elas não são baseadas em afinidade artística ou visão criativa, como no passado. Elis Regina e Tom Jobim, embora vivessem momentos diferentes de suas carreiras, criaram a obra-prima Elis & Tom, em 1974, porque cada um contribuiu com o melhor que tinha a oferecer — e era muito. Hoje não é bem assim. Gravadoras e empresários buscam nomes com perfis diferentes para que o alcance nas plataformas de streaming seja maior. Se isso acontecia de forma orgânica no passado, hoje é fruto de sofisticadas estratégias digitais que incluem algoritmos e geolocalização.

Elis e Tom: álbum gravado nos EUA em 1974 foi bom para a carreira de ambos

O exemplo mais recente é Die With a Smile, collab entre Bruno Mars e Lady Gaga. Nenhum dos dois precisaria do outro para lançar um hit mundial, mas, ao somarem forças, ampliam ainda mais o alcance de suas carreiras. No Spotify, a plataforma mais popular, Bruno Mars tem 88 milhões de seguidores; Lady Gaga possui 73 milhões. Ao lançarem uma faixa juntos, os seguidores de Mars são expostos ao perfil de Gaga e vice-versa. Isso provoca um impacto financeiro imediato, uma vez que o faturamento do streaming vem da audiência que uma música tem. Ao ser exposto ao perfil de Gaga, é provável que os fãs de Mars cliquem em alguma música. A grosso modo, lançar uma collab funciona como um enorme anúncio para os seguidores do parceiro — com rentabilidade praticamente garantida.

União lucrativa

A estratégia não é nova. Quando Paul McCartney convidou Michael Jackson para gravar ‘Say Say Say’ no álbum Pipes of Peace, em 1983, estava de olho no público do artista que havia estourado com Thriller no ano anterior. Mas não havia nenhuma garantia de que os fãs de Michael comprariam o disco apenas porque o cantor participava de uma faixa. O videoclipe certamente ajudaria a divulgá-la, mas tampouco daria lucro diretamente. Já o videoclipe de Mars e Gaga gerou dinheiro vivo, graças à remuneração feita pelo Youtube. Embora se assemelhem conceitualmente às parcerias do passado, as collabs no mundo digital são bem mais lucrativas.

(Divulgação)

Outra collab recente que promete dominar a mídia é a da brasileira Anitta com a italiana Victoria de Angelis, da banda Måneskin. As duas já começaram a postar fotos juntas, em poses sensuais, em suas redes sociais. O recém-lançado single ‘Get up Bitch Shake Ya Ass’ têm objetivos bem definidos: após conquistar o mercado brasileiro e latino, Anitta canta em inglês para chegar à Europa e EUA; a italiana, por outro lado, deseja alcançar o público na América do Sul e México. A estratégia começou no ano passado, quando Anitta gravou ‘Mil Veces’, com David Damiano, vocalista do Måneskin, em espanhol.

Aos pessimistas que pensam que tudo é mercado, duas collabs entre artistas brasileiros e internacionais nos permite crer que nem tudo está perdido. O álbum Collab, lançado em conjunto pelo bandolinista Hamilton de Holanda e o pianista cubano Gonzálo Rubalcaba, é uma combinação perfeita de estilos que se entrosam entre si, rendendo algo novo e um dos melhores lançamentos do ano até aqui. O mesmo acontece com o disco Milton + Esperanza, colaboração entre Milton Nascimento e a baixista norte-americana Esperanza Spalding. Para quem acha que o mercado dita os ramos da música, a parceria entre a MPB e o jazz é um sopro de esperança.

A aguardada volta do Oasis

Liam e Noel Gallagher: “As armas silenciaram e as estrelas se alinharam” (Crédito:Divulgação )

Não chega a ser exatamente uma collab, uma vez que os dois fizeram parte de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos. Fãs do mundo inteiro comemoraram o fim das animosidades e a volta dos irmãos Liam e Noel Gallagher, fundadores do Oasis, aos palcos. O anúncio feito durante a semana foi bombástico: depois de 15 anos de brigas públicas, com direito a troca de farpas pela imprensa, ambos postaram juntos uma mensagem enigmática: “As armas silenciaram. As estrelas se alinharam. A grande espera acabou. Venha ver. Não será televisionado”, escreveram, mantendo o estilo arrogante que marca a trajetória da dupla dinâmica desde o lançamento do álbum de estreia, Definitely Maybe, em 1994. Logo vieram a público as datas da primeira fase da turnê, em julho e agosto de 2025. Shows no País de Gales, Escócia, Irlanda e Inglaterra devem ser o aperitivo para uma grande excursão mundial — isso se eles não brigarem novamente. Em 29 de agosto de 2009, há exatos 15 anos, Liam atacou Noel com a guitarra, cancelando a apresentação e marcando o (primeiro) fim da banda.