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Turismofobia: você tem certeza de que será bem recebido?

Moradores de cidades turísticas começam a se rebelar contra o excesso de visitantes, que causam desgastes, aumento generalizado de preços e levam a infraestrutura ao limite nas altas temporadas

Crédito: Adria Puig/Anadolu/AFP

Moradores de Barcelona atacam visitantes com água esguichadas de armas de brinquedo para protestar contra o que consideram “excesso de turistas” na capital da Catalunha (Crédito: Adria Puig/Anadolu/AFP)

Por Marcelo Moreira

Do ponto de vista econômico, não faz sentido a expressão “combater o turismo ou o/a turista”. Importante fonte de renda para qualquer lugar, o visitante costuma ser cortejado e atraído de todas as formas, especialmente em um País como o Brasil, com alto potencial na área mas com visitantes de menos em relação a outros países. Como entender, então, a ojeriza de moradores de algumas cidades importantes aos visitantes que gastam bastante dinheiro e ajudam a manter milhares e empregos? Não se trata de um fenômeno recente, mas está ganhando corpo em destinos clássicos da Europa e, vez por outra, dá sinais de intolerância no Brasil.

No fenômeno da “turismofobia”, ou “overtourism”, em inglês, a hostilidade tem sido destinada a qualquer visitante, com dinheiro ou não. Houve casos pontuais em Paris no mês passado por conta da realização dos Jogos Olímpicos, mas a Europa têm registrado situações inusitadas, como protestos em Barcelona, na Espanha, ou campanhas de “aconchego”, em Copenhagen, capital da Dinamarca.

Para muitos moradores de cidades turísticas, o excesso de visitantes tem trazido efeitos colaterais difíceis de suportar, como:
a perda da tranquilidade com mais poluição sonora,
acúmulo de lixo,
e aumento generalizado do custo de vida,
especialmente no preço de alugueis e de alimentos.

São os casos de Barcelona e Mallorca, na Espanha, que registraram movimentos de moradores que pregam a limitação do número de visitantes anuais e que elaboraram um conjunto de sugestões para tornar a cidade mais sustentável. Ganharam destaque na imprensa casos de turistas atacados com jatos de água.

Em Copenhagen, uma das cidades mais adeptas ao transporte feito por bicicletas, o aumento de incidentes entre pedestres e ciclistas chamou a atenção para o turismo crescente. Mesmo com preços em euro, ainda é um destino considerado mais em conta do que outras capitais europeias e virou atração grande. A prefeitura cansou de receber reclamações de superlotação da Strogset, a principal rua turística do centro, um longo calçadão abarrotado de estrangeiros. Como medida paliativa, passou a premiar turistas que visitam a cidade e tomam “atitudes ecológicas”.

No Brasil, ainda não se registrou caso de turismofobia explícita, até porque prefeituras se digladiam para atrair mais visitantes. Há locais como Praia Grande (SP) e Balneário Camboriú (SC) que registram um movimento inverso na alta temporada, de moradores que se programam para sair da cidade em picos de lotação, mas nada que seja tão dramático.