Ditaduras nefastas
Por Germano Oliveira
Quando tinha quatro anos e ainda morava em Portugal, onde nasci, meu pai vivia atormentado com a repressão que sofria na ditadura de António de Oliveira Salazar, que massacrava o povo português e impunha um grande atraso econômico. Meu pai não falava de outra coisa a não ser deixar Portugal. Lembro-me de que meus avós moravam em uma “horta” defronte a um quartel da Polícia Internacional de Defesa do Estado (PIDE) e toda noite ouvíamos gritos de sofrimento. Minha mãe explicava que eram os presos do salazarismo sendo torturados e nos trancava em quartos para abafar os urros de dor dos “inimigos” do regime ditatorial de Salazar.
Mudamos para o Brasil em 1961 na esperança de dias melhores, vivendo em um País democrático no qual todos pudessem trabalhar por um futuro de oportunidades. Ledo engano. Três anos depois da nossa chegada ao Porto de Santos, estourou o golpe do regime militar. Mais um infortúnio. A ditadura militar prendeu, torturou e matou centenas de brasileiros e logo não tardou a surgir o bordão “Brasil: Ame ou Deixe-o”. Concomitantemente, veio a promessa do milagre brasileiro, mas que era preciso primeiro fazer o bolo crescer para depois reparti-lo, como dizia Delfim Netto, o mentor da política econômica dos militares e que acabou de falecer. Atravessamos anos obscuros, de repressão, censura e atraso econômico.
Foram mais de duas décadas de um regime que todos queremos esquecer. O próprio presidente Lula foi uma das vítimas desse Estado autoritário. Esteve preso, destituído do seu cargo de presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, mas muitos de seus companheiros foram torturados ou tiveram que pedir asilo a outros países para não serem assassinados. Hoje, com a redemocratização podemos reconstruir nossos caminhos e nos tornarmos a oitava maior economia do mundo, embora ainda não tenhamos conseguido reduzir as desigualdades sociais.
Por isso, quando vemos o presidente Lula dizer que a Venezuela não é uma ditadura, mas apenas um “regime desagradável”, causa-nos grande mal-estar. Afinal, desde que o chavismo tomou conta daquele país e está eternizando no poder o ditador Nicolás Maduro, os venezuelanos entraram num longo período de atraso econômico e social. Apesar de aquela nação ter as maiores reservas de petróleo do mundo, o povo é miserável. Mais de 5 milhões de pessoas deixaram a Venezuela, fugindo da ditadura. Lá, as eleições não são livres e, quando acontecem, o pleito é roubado, como aconteceu agora. Certamente se a Venezuela fosse democrática, a população já teria se unido para superar as crises e voltar a tornar-se um país forte. As ditaduras são nefastas.