Comportamento

A moda da tela: linhas entrelaçadas tomam as ruas, passarelas e praias

O chamado ponto telado ganha espaço na Europa e conquista o gosto dos brasileiros. Grifes nacionais o incluem em peças de crochê, tricô, renda ou fios entrelaçados, que podem ser usadas de modo isolado ou em sobreposições

Crédito: Divulgação

Trama aberta: vestido em crochê com fibra vestido em crochê com fibra de palha de bananeira feita por associação de artesãs parceira da marca brasileira Marina Bitu (Crédito: Divulgação )

Por Ana Mosquera

As roupas com padronagem que remete a uma tela encontram-se em alta. Além de estarem em evidência entre as grifes dinamarquesas destacadas na Semana de Moda de Copenhagen – são algumas delas Munthe, Gestuz e Rotate –, as telas vêm tomando o visual de espectadores que circundam os eventos mais importantes da moda mundial. No Brasil, um número significativo de marcas artesanais investem nos modelos, com linhas dedicadas às técnicas de entrelaçamento. Na coleção Dualismo, da grife Viviane Furrier, o ponto telado é protagonista em roupas que vão bem do resort ao espaço urbano.

A escolha por dar esse destaque vai além da inspiração internacional. “Foi explorada pela nossa expertise, que nos possibilita a criação de pontos telados diversos e inovadores, por meio dos diferentes fios utilizados”, diz a diretora criativa Viviane Furrier.

• Em um misto de ousadia e discrição, a estrutura telada garante diversidade de cores, tecidos e desenhos.
• O entrelaçamento permite tramas mais abertas ou fechadas, assim como sua disposição pode formar desenhos repetidos — círculos, quadrados, hexágonos, flores e abstrações estão dentre as formas que compõem a nova tendência.

“Temos visto linhas retas e acabamentos sofisticados ou linhas curvas e acabamentos mais orgânicos, com brilhos e detalhes”, diz Manu Carvalho, estilista, consultora de moda e coordenadora do curso de fashion styling do Istituto Europeo di Design, o IED. Assim como podem ser usadas sobrepostas a outras, as peças funcionam bem sozinhas.

A sócia-fundadora da agência DOISUM, Gabriela Ajala, é adepta da tendência, sobretudo pela versatilidade com que as roupas vazadas atravessam as estações: “Adoro usar vestido por cima da calça ou colocar uma segunda pele colorida por baixo. Eu tenho outra peça que também tem essa aparência, só que é metalizada, e que já usei de diversas formas”. O ponto telado reina em cores neutras, mas também ganha holofote entre as mais chamativas — como o verde brat do modelo da Coven do guarda-roupa de Gabriela.

Na coleção Teorema, do Verão 25, a marca brasileira traz referências geométricas, do neoconcretismo aos origamis, segundo o site oficial da marca brasileira.

Cores, tecidos e desenhos: modelo em renda misturado ao streetwear, nas ruas de Copenhagen (Crédito:Divulgação )
Tricô com furos médios da coleção Dualismo, da grife Viviane Furrier (Crédito:Divulgação )

Vestido verde brat da grife nacional Coven, usado pela empresária Gabriela Ajala em visita à exposição de arte (Crédito:Divulgação )

Em sobreposições nas passarelas da Munthe, na Copenhagen Fashion Week (Crédito:Divulgação )
Desenhos abstratos em roupa da dinamarquesa Gestuz (Crédito:Divulgação )

 

Motivos florais são destaque em desfile da Rotate em um jardim, no mesmo evento mundial na capital dinamarquesa (Crédito:Divulgação )

Ode ao manual

“São peças que representam o fio tecedor das histórias que formam a nossa sociedade, a existência dos povos originários e dos colonizadores, que resulta na construção do grupo que hoje habita o território brasileiro”, diz a estilista Marina Bitu, cujo portfólio possui, entre outras peças, modelos em crochê feito de fibra de palha de bananeira por um grupo de artesãs parceiro.

Não é raro relacionar a volta do artesanal às crises, sejam elas econômicas, sanitárias ou ambientais, mas é indissociável sua relação com a chegada agressiva da moda industrial, da era digital. “A valorização do artesanal é recorrente, sobretudo nos altos picos de avanços tecnológicos, como a inteligência artificial, para fazer um contraponto”, diz a coordenadora do IED, Manu Carvalho.

A questão do upcycling também está entremeada à moda das tramas. “Por meio de acabamentos em crochê, bordados e aplicações, peças paradas em estoque ou que não seriam mais utilizadas pelo consumidor ganham um visual contemporâneo, reduzindo o descarte de materiais”, diz Ana Júlia Buttner, professora do Hub de Moda e Luxo da ESPM.