Cultura

Capiba, o ‘rei do frevo’, é tema de musical montado por organização de impacto social

O compositor pernambucano Capiba inspira musical que ressalta a força da obra que combinou o popular e o erudito em mais de duzentas criações de sucesso

Crédito: Alicia Cohim

Capiba, Pelas Ruas eu Vou: sons e ritmos que representam a alma e o sonho do povo brasileiro (Crédito: Alicia Cohim)

Por Felipe Machado

Pouca gente conhece o nome de Lourenço da Fonseca Barbosa, mas basta lembrar do carinhoso apelido pelo qual ele ficou famoso, Capiba, para se deparar com uma coleção de mais de 200 composições de diversos estilos, repertório que o torna um dos mais completos criadores da música brasileira. O “rei do frevo”, na verdade, foi bem mais que isso: escreveu sambas, cirandas, maracatus, choros, valsas. A maior prova dessa versatilidade é a Missa Armorial, obra erudita que uniu a tradição ao popular, combinando instrumentos de concerto e das ruas em um dos pontos altos do movimento criado por Ariano Suassuna.

A trajetória do artista serviu de inspiração para o musical Capiba, Pelas Ruas eu Vou, desenvolvido pela organização Aria Social. Com 43 bailarinos e 18 músicos no palco, reúne dança, música, teatro e fotografia. Após estrear em Recife, onde foi visto por quase 20 mil pessoas, o espetáculo passou pela capital e o interior de São Paulo — em breve novas datas e cidades serão anunciadas.

Esperança no Brasil

A Aria Social é uma organização sem fins lucrativos criada em 1991 pela bailarina Cecília Brennand, que também assina a direção geral do musical. Com sede em Jaboatão dos Guararapes, região metropolitana do Recife, o projeto com ênfase no empreendedorismo e na formação de bailarinos e cantores já impactou mais de dez mil crianças por meio de ações de arte-educação.

Ritmos brasileiros: 43 bailarinos e 18 músicos em cena na superprodução da Aria Social (Crédito:Divulgação )

Cecília Brennand afirma que a iniciativa atende atualmente a mais de 500 alunos. “Sempre pensei em juntar a dança e o canto, e com esse projeto social pude colocar isso em prática”, afirma ela. A bailarina ressalta a admiração pelo conterrâneo: “Capiba extrai das raízes da nossa gente os sons e ritmos que representam a alma e o sonho de um povo”.

Essa homenagem é a terceira turnê promovida pela organização, que já realizou um tributo a Heitor Villa-Lobos e o show Lua Cambará, com letra de Ronaldo Correia de Brito e música de Zoca Madureira, outro integrante do Movimento Armorial.

O enredo, espécie de Medeia nordestina, conta a história de uma assombração que é fruto do relacionamento de uma escrava com um coronel.

Diretor teatral de Capiba, Pelas Ruas eu Vou, Tuca Andrada emocionou com a participação. “No momento em que o projeto entrou na minha vida, eu estava muito desacreditado em fazer arte e cultura em um País que trata isso como bens supérfluos”, diz ele. “É uma injeção de ânimo ver jovens ensaiando com força e garra o espetáculo sobre esse patrimônio nacional que foi um dos maiores músicos brasileiros de todos os tempos. Me deu esperança no Brasil.”

Versos musicados: parcerias com Vinícius de Morais e Carlos Drummond de Andrade (Crédito:Divulgação )

Pianista nos tempos do cinema mudo
Apaixonado por futebol, Capiba foi jogador do Campinense e compôs o hino do Santa Cruz

Nascido em 1904, no município de Surubim, em Pernambuco, Capiba logo se tornou uma figura icônica.
• Filho de maestro, tocava trompa e piano desde a infância — reza a lenda que aprendera a ler partituras antes mesmo de ser alfabetizado.
Ainda criança, ganhava trocados para tocar piano nas salas de cinema, acompanhando as imagens dos filmes mudos.
Sua segunda paixão foi o futebol: atuou como zagueiro do Campinense Clube e, fanático pelo Santa Cruz, compôs em 1948 o frevo “O Mais Querido”, escolhido como hino da equipe.
Seu primeiro sucesso foi a valsa “Maria Bethânia” — sem relação com a cantora —, gravada por Nelson Gonçalves, em 1945.
Entre seus parceiros estão os poetas Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Morais e João Cabral de Melo Neto, além de Ariano Suassuna.
Faleceu em 1997, mas sua obra continua viva nas festas populares e no imaginário cultural de todo o Brasil.