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A máquina de fraudes ligada ao PCC

Mais de 500 postos próprios, uma formuladora, 4 usinas de etanol e quase a quarta maior força na distribuição de combustíveis do Brasil

Crédito: Divulgação

Copape teve o registro suspenso pela ANP, mas a GT Formuladora, do mesmo grupo, “driblou” a fiscalização e conseguiu um inexplicável aval da Secretaria de Fazenda paulista para operar (Crédito: Divulgação )

Por Leandro Mazzini

Poderia ser a descrição de um grupo empresarial de sucesso, mas segundo as autoridades brasileiras é uma de engrenagem de fraudes que teria ligações próximas à principal facção criminosa do Brasil. Mesmo não aparecendo como sócios, Mohamad Hussein Mourad e Roberto Augusto Leme da Silva – conhecido vulgarmente como Beto Louco – são apontados pelo MP estadual como verdadeiros donos do Grupo Copape.

Mohamad foi recentemente denunciando por lavagem de dinheiro e falsidade ideológica justamente na operação de aquisição das cotas sociais do Grupo Copape. Em um detalhado trabalho, o MP paulista esquadrinhou o caminho dos recursos duvidosos. Também esmiúça a grande quantidade de pessoas e estruturas societárias das quais Mohamad se utiliza para driblar as autoridades. Uma dúvida que ainda está no ar é sobre a origem dos recursos utilizados por Roberto Augusto Leme da Silva para comprar as sua participação na Copape. Fala-se no mercado que a dupla teria pago R$ 100 milhões aos antigos proprietários do Grupo. O MP já identificou R$ 52 milhões de Mohamad, tendo sido inclusive o motivo para denúncia por lavagem de dinheiro — desta forma, de onde vieram os R$ 48 milhões?

Beto Louco não tinha nenhum negócio formal de grande porte até se transformar em dono da Copape. Certamente seu imposto de renda não detém justificativa para compra de 50% das cotas da formuladora e é pouco provável que ele tenha obtido esse recurso por meio de empréstimo bancário. Ele também foi denunciado na Operação Ariana, flagrado por agentes da PRF e MP importando gasolina como se fosse nafta e a misturando com solvente em uma base clandestina no interior paulista. Essa fraude na importação de gasolina como se fosse solvente é uma das fraudes investigadas pelo MPE nas operações da Copape.

Ainda na operação Ariana, que denunciou Beto Louco, um outro denunciado mostra enorme preocupação na origem dos recursos depositados por Beto Louco em sua empresa: ele envia para seu funcionário reportagem sobre Operação Rei do Crime, que prendeu vários empresários do mercado de combustíveis ligado ao PCC, e destaca para tomar cuidado com os recursos oriundos das contas de Beto. Segundo o próprio MPE, isso seria um forte elemento que comprovaria a ligação de Beto Louco com a facção criminosa. No próprio inquérito que investiga a Copape, o MP deixa evidenciado que essa seria uma das linhas de investigação.

Mais que uma questão de segurança pública. E autoridades sabem disso e nada fazem (Crédito:Divulgação )

Em uma pesquisa com todos os nomes citados pelo MPE como pessoas ligadas a Mohamad, é possível identificar pelo menos 200 postos de gasolina, ativos no estado de São Paulo. O próprio governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, em discurso em Nova York, destacou sua preocupação com o PCC que controlaria mais de 1.100 postos em São Paulo.

Porém, enquanto autoridades federais e de outros Estados fecham o cerco contra o Grupo Copape – que teve seu registro suspenso pela Agência Nacional de Petróleo devido às fraudes realizadas pela companhia –, as autoridades paulistas não demonstram a mesma determinação. Mesmo com o cerco da ANP, uma situação inexplicável: a Secretaria da Fazenda de São Paulo concedeu inscrição estadual para o mesmo grupo, a GT Formuladora, apesar da legislação bem severa sobre concessão dessa inscrição. Até quando a Secretaria iniciou o processo de cassação da inscrição da Copape pelas fraudes identificadas, o mesmo órgão concedeu a inscrição para a GT, algo surreal para quem conhece a legislação.

O mesmo acontece com os postos de gasolina do grupo, mesmo após o MPE ter detalhado de forma minuciosa todas as pessoas e empresas que são utilizadas por Mohamad para “alaranjar” suas empresas. As autoridades paulistas não fizeram nenhum movimento para tentar cessar as atividades desses postos. E o consumidor na rua continua a correr risco.