Economia

Combinação de painéis solares e fazendas eólicas pode ser solução no Brasil

Ao se destacar na produção de fontes híbridas de origem renovável, Brasil tem a oportunidade de se firmar como uma potência do setor e enfrentar com mais segurança desafios econômicos e sociais

Crédito: Divulgação

Complexo Sol do Piauí, no município de Curral Novo do Piauí (PI): projeto combina painéis solares e fazenda eólica (Crédito: Divulgação )

Por Mirela Luiz

Após o apagão de 2001, que expôs as fragilidades da matriz energética brasileira, o governo federal intensificou esforços para diversificar suas fontes. Hoje, o Brasil se destaca como um dos líderes mundiais no setor da energia renováveis, impulsionado por sua localização privilegiada e proporções continentais que oferecem um potencial excepcional para painéis solares e fazendas eólicas, especialmente no Nordeste. A contribuição dessas fontes, porém, ainda é tímida na composição da matriz elétrica nacional.

A energia híbrida, que combina a geração solar e eólica, surge como uma alternativa viável e sustentável para o futuro energético do Brasil.
Esse formato não apenas responde às demandas climáticas, mas também abre oportunidades econômicas promissoras.
Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), em 2022, o País alcançou 18,8 GW de capacidade instalada em energia solar e 22,8 GW em eólica.
A meta do governo é que, até 2030, quase metade (48%) da matriz energética seja composta por fontes renováveis.

“O modelo deve ser replicado por empresas que queiram agregar eficiência à geração de eletricidade renovável.”
Henrique Barbosa, gerente da Auren Energia

Henrique Barbosa, gerente do complexo Eólico da Auren Energia, empresa oriunda da integração entre a Votorantim S.A. e o CPP Investments, ressalta a importância da combinação dessas fontes. O complexo híbrido Sol do Piauí foi o primeiro projeto desse tipo aprovado pela Aneel e serve como modelo para futuras iniciativas. “A sinergia de diferentes fontes para potencializar a produção é uma das premissas para o nosso portfólio. O parque híbrido é exemplo disso. O modelo deve ser replicado no futuro por empresas que tenham como objetivo agregar mais eficiência à geração de eletricidade renovável”, afirma Barbosa.

Os benefícios econômicos da energia híbrida são substanciais. Um estudo da Bloomberg New Energy Finance (BNEF) indica que projetos híbridos podem reduzir custos operacionais em até 20%, otimizando a geração e minimizando a dependência da rede elétrica em horários de baixa produção solar.

Francisco Silva, diretor técnico da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), destaca que a união das duas fontes em um mesmo projeto traz vantagens significativas para geradores e consumidores. “Todos os grandes geradores de energia eólica e solar têm analisado a possibilidade de desenvolver projetos de usinas híbridas pois, tanto para geradores, como para consumidores, trata-se de uma questão de economia”, avalia.

Associação Mulheres Fortes: geração de renda e comercialização de produtos locais (Crédito:Paulo Guimaraes)

Os investimentos na energia híbrida estão em ascensão, com 93,79% da nova capacidade gerada em 2024 proveniente de fontes limpas.
As usinas solares fotovoltaicas foram responsáveis por 49,23% dessa potência.

Rodrigo Sauaia, presidente da Associação Brasileira de Energia fotovoltaica (Absolar), enfatiza a versatilidade da iniciativa, que pode ser combinada com diferentes tecnologias, aproveitando o recurso natural excepcional em todo o País. “Graças a sua versatilidade, a energia solar fotovoltaica pode ser combinada com essas diferentes tecnologias. O Brasil tem um recurso solar excepcional, de norte a sul do País, então é possível aproveitar esse recurso onde quer que esteja localizada a outra fonte”, explica.

Além dos benefícios ambientais, o conceito representa uma oportunidade de transformação social. A Auren Energia, por exemplo, tem implementado projetos de acesso à água no sertão, incluindo poços artesianos e sistemas de captação de água da chuva. “A conservação da biodiversidade nas áreas próximas às unidades operacionais é um de nossos compromissos. Para isso, realizamos iniciativas para mapear, monitorar e controlar o impacto que o nosso negócio pode trazer ao meio ambiente, além de avaliar, oferecer suporte técnico e investir em oportunidades para alavancar os processos de restauração e conservação da biodiversidade”, explica Henrique.

Jaiane Josefa e a filha Ana Cecília de Sousa: participação no projeto Bem-viver, no semiárido, proporcionou fonte de renda e qualidade de vida (Crédito:Paulo Guimaraes)

Essas iniciativas não apenas promovem práticas agrícolas sustentáveis, mas também proporcionam uma fonte de renda mais estável para as famílias e os produtores agrícolas locais. Maria Jucilene e Silvino Cardoso, moradores da região, acreditam que esses projetos tiveram impacto em suas vidas: “Hoje temos uma fonte de renda e a possibilidade de uma vida melhor”.