A turma da tunga

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Antonio Carlos Prado: "Talvez tenhamos, nesse momento, encontrado a expressão mais adequada, a expressão que melhor veste o figurino, a expressão que melhor traduz os deputados que anistiaram a si: o contrário de honesto – desonestidade" (Crédito: Divulgação)

Por Antonio Carlos Prado

A Câmara dos Deputados, em Brasília, conta com quinhentos e treze parlamentares eleitos constitucionalmente pelo povo
para, também constitucionalmente, cuidarem dos interesses desse mesmo povo e garantir que direitos sejam respeitados. Eles, os quinhentos e treze deputados federais, estão investidos de legítimos mandatos a partir de eleições que se realizam com periodicidade, por meio de voto secreto e sufrágio universal, conforme estabelece a legislação. Já sabíamos que talvez seja um número excessivo, uma vez que tais mandatos, não para todos, mas para muitos deles, se traduzem em pensar vinte e quatro horas no próprio umbigo. Em uma clara e direta linguagem, é aquela coisa: a gente já sabia, mas custa a acreditar quando a quadra é tão dolosa, absurda e acintosa. Agora já não tem mais como não crer: somente pouco menos de vinte por cento do colegiado de deputados federais votaram contrariamente à Proposta de Emenda à Constituição que livra os partidos políticos, institutos e fundações de ressarcirem a União com as quantias do fundo eleitoral desviadas nas últimas eleições e também não investidas nas cotas raciais que a lei manda existir no leque de candidatos.

Sequer coraram nossos oitenta por cento de deputados federais quando anistiaram a si próprios. Em uma linguagem mais irônica, sequer coraram quando votaram na linha do devo, não nego, posso pagar, mas não pagarei. A anistia aterrorizante deu-se à direita, à esquerda e ao centro. Tirante os vinte por cento já citados acima, todos se uniram, sem ideologias e princípios éticos, para perdoarem suas próprias falcatruas. Julgaram a si mesmos e inocentaram a si mesmos, ainda sabendo que têm culpa. Será que nos vídeos das próximas campanhas eleitorais os deputados candidatos à reeleição incluirão as imagens em que oficializam o calote no Brasil?

A leitora e o leitor que estão suando de tanto trabalhar para pagar, por exemplo, o hospital do filho doente ou a mensalidade para o filho em idade escolar, escolhem a expressão para os deputados que inocentaram a si próprios: opróbrio! Ignomínia! Torpeza! Cabe, aqui, lembrar palavras de Ruy Barbosa em Oração aos Moços: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar das virtudes, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”.

Talvez tenhamos, nesse momento, encontrado a expressão mais adequada, a expressão que melhor veste o figurino, a expressão que melhor traduz os deputados que anistiaram a si: o contrário de honesto: desonestidade. Isso: desonestidade comigo, com as senhoras e os senhores, com a República!