Série revela obras de compositores brasileiros de trilha de cinema
Série documental dirigida pelo crítico Marcelo Janot retrata a trajetória de expoentes das diversas gerações de compositores com ênfase na música para o cinema
Por Felipe Machado
Assim como a música brasileira, os filmes nacionais também têm características próprias e atributos definidos. Mas e as trilhas sonoras feitas para cinema no País, teriam também um estilo marcante, um DNA típico dos brasileiros? Essa é uma das perguntas que o diretor Marcelo Janot busca responder na série Na Trilha do Som, em cartaz no canal Curta! e no site CurtaOn. A primeira temporada traz Chico Buarque, Gilberto Gil, Antonio Pinto, André Abujamra, Plínio Profeta, David Tygel, DJ Dolores e Remo Usai.
A ideia surgiu a partir da experiência pessoal de Janot. Como crítico, apresentou os cursos Ouvir o Filme e Na Trilha dos Mestres, sobre a influência da música no cinema. Para ele, a originalidade dos compositores brasileiros nasce com os experimentos de Remo Usai, que reuniu uma orquestra e uma escola de samba para a música do filme O Assalto ao Trem Pagador, em 1962. “Foi uma ideia extremamente ousada; Remo criou uma identidade que todos os que vieram depois absorveram”, afirma Janot. “A grande sacada da trilha nacional foi combinar o legado orquestral do cinema internacional com uma brasilidade muito evidente.”
Canções e emoções
No capítulo de estreia, Chico Buarque fala sobre seu amor pelo cinema na infância. Em São Paulo, onde viveu quando era criança, frequentava o Cine Rex, na Rua Augusta. Suas primeiras lembranças remetem a aventuras do “cinemão”, como Sansão e Dalila, e musicais da Metro Goldwyn-Meyer, entre eles Cantando na Chuva e Sinfonia de Paris. Em 1966, ainda estudante de arquitetura, Chico foi convidado para fazer a trilha de Anjo Assassino, de Dionísio Azevedo. Foi seu primeiro e único trabalho com música instrumental para o cinema.
O compositor, no entanto, não se considera um “trilheiro” tradicional. “Não fiz música para cinema, escrevi canções”, afirma Chico. E foram muitas, entre elas as canções-títulos de Quando o Carnaval Chegar e Bye, Bye Brasil, além de “O que Será?”, de Dona Flor e Seus Dois Maridos. “O que me motivou a escrever essas canções foram as imagens. Fiz “O que Será?” pensando na Sonia Braga”, explica.
Gilberto Gil, outro ícone da MPB, explica como se tornou autor de canções para os filmes Eu, Tu, Eles e Gonzaga – De Pai Pra Filho, entre ouros. “Em pleno Tropicalismo, Walter Lima Junior me convidou para fazer a trilha de Brasil Ano 2000. Tive que pensar na temática dos personagens e como traduzir a atmosfera visual em música. Aí fui fazendo as canções”, conta Gil. Embora a série foque nas trilhas para cinema, impossível esquecer uma trilha que Gil fez para a TV: Sítio do Picapau Amarelo, adaptação da obra de Monteiro Lobato.
A experiência de Antônio Pinto foi bem diferente. Após passar uma temporada nos EUA, onde estudou bateria e se apaixonou por óperas, voltou ao País e trabalhou em parceria com Zé Miguel Wisnik no filme Terra Estrangeira, de Walter Salles. O bom resultado levou ao convite para fazer a trilha de Abril Despedaçado, também de Salles.
Mas foi Central do Brasil, outra parceria com o diretor, que chamou a atenção de Hollywood — a atriz Fernanda Montenegro foi indicada ao Oscar. Já Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, recebeu indicação a quatro Oscars. Agradou Hollywood e o compositor foi convidado para fazer a trilha de Colateral, blockbuster estrelado por Tom Cruise. A trilha sonora foi seu passaporte para o cinema internacional, onde permanece bastante requisitado até hoje.