Edtechs avançam na América Latina
Plataformas digitais de educação ganham destaque na América Latina, representando cerca de 15% dos negócios sociais na região: sete em cada 10 são brasileiras
Por Mirela Luiz
A partir de 2010, houve um aumento expressivo no número de startups voltadas para a educação, impulsionado pelo maior acesso à internet e pela evolução das tecnologias móveis. Conhecidas como edtechs ou edutechs, essas empresas atuam principalmente na capacitação técnica em áreas como programação, idiomas e conteúdos específicos. Elas utilizam plataformas digitais para oferecer materiais interativos e personalizados, promovendo um aprendizado mais dinâmico e acessível. Os modelos de negócios nesse setor são diversos, abrangendo desde o ensino de idiomas e formação técnica até educação financeira e apoio à educação básica, além de parcerias com o terceiro setor. “Essas startups estão divididas em dois blocos, um que atua em tecnologias emergentes que ampliam a capacidade de ensino e aprendizagem do aluno e outro bloco que foca em serviços de captação, retenção e injeção de capital nestas instituições”, explica Henrique Borges, CEO da Somos Young.
Conforme estudo da Fundação Dom Cabral (FDC) sobre empreendedorismo com impacto social:
• 57% das edtechs estão localizadas no Brasil e 40% têm ramificações operando em países como Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, México, Paraguai e Peru.
• As edtechs têm ganhado destaque na América Latina, representando cerca de 15% dos negócios sociais na região. Segundo relatório Edtech Report 2024, produzido pelo Distrito, a América Latina tem hoje um total de 898 startups de educação ativas.
• Destas, sete em cada 10 são brasileiras. Foram identificadas 813 edtechs ativas no Brasil, número que representa um aumento de 44% em relação ao Mapeamento de 2020, quando foram detectadas 556 Edtechs.
“A América Latina é um ambiente promissor, com uma crescente demanda por soluções educacionais, especialmente após a pandemia de Covid-19, que obrigou a adoção de tecnologias e ensino remoto. Essa transição acelerou a implementação de ferramentas educacionais”, comenta Daniel Filho, diretor de parcerias da Alpha EdTech.
Na última década, o panorama das edtechs na América Latina mudou significativamente.
• Em 2009, empreendedores sociais de diversos setores representavam 2,4% do total de investidores na região.
• Embora esse percentual tenha diminuído nos anos seguintes, alcançando apenas 0,5% em 2011 e 2012, o setor se recuperou a partir de 2015, quando a taxa de criação de empresas focadas em empreendedorismo social subiu para 4,3%.
• Aproximadamente 25% dessas empresas faturam mais de R$ 500 mil por ano, 50% geram entre R$ 50 mil e o restante fatura até R$ 10 mil anualmente.
• Entre 2018 e 2024, o volume de investimento nas edtechs brasileiras acumulou quase US$ 500 milhões.
“Os desafios enfrentados pelas startups educacionais na América Latina se resume basicamente em fornecer infraestrutura e tecnologia avançada para comunidades menos favorecidas”, afirma Fabian Salum, professor e coordenador do estudo na FDC.
57% das edtechs estão localizadas no Brasil
Atualmente, as escolas estão cada vez mais em busca de soluções digitais para integrar em seus currículos ou para resolver desafios específicos.“Hoje, os professores não são mais os únicos detentores do conhecimento e precisam capacitar seus alunos a se tornarem protagonistas do próprio aprendizado”, explica Rebecca Rios, educadora e representante do Quizizz no Brasil.
“Os empreendedores sociais buscam resolver problemas que não foram devidamente abordados por políticas públicas, os quais limitam o progresso do Brasil e da América Latina. A pesquisa identificou uma correlação entre o crescimento das startups de empreendedorismo social e a criação das 17 ODS estabelecidas pela ONU, relacionando-se à promoção de uma agenda global para a formulação e implementação de políticas públicas que guiarão a humanidade até 2030”, analisa Fabian Salum.
Mulheres no comando
Nos últimos anos, o mercado de Femtech, que abrange tecnologias voltadas para a saúde e o bem-estar feminino, tem mostrado um crescimento impressionante. Esse setor, que vai desde aplicativos de acompanhamento menstrual até dispositivos de saúde reprodutiva, está atraindo investimentos significativos e ganhando destaque na indústria de tecnologia e saúde.
Para o futuro do segmento, o prognóstico é mesmo promissor. Em 2024, o mercado de femtechs manterá seu crescimento global, com uma taxa anual (CAGR) de 13,3% até 2026, avaliado em mais U$ 50 bilhões em 2023, de acordo com a agência de pesquisas Arizton Advisory & Intelligence.
“O mercado de empresas que usam tecnologia para oferecer serviços e produtos exclusivos para mulheres deve movimentar US$ 70 bilhões até 2026 no mundo. O Brasil ainda precisa ser reconhecido como uma nação de mulheres potentes, realizadoras e com mentes colaborativas. E este protagonismo precisa estar nas corporações, especialmente nas 1000 maiores e com ações na bolsa, para que adotem práticas voltadas à equidade de gênero, conforme a agenda 2030 da ONU”, avalia Delia Zéfiro, CEO da ONELADY, plataforma global que conecta pessoas ao redor do mundo com negócios fundados ou liderados por mulheres.