Economia

Será o fim das agências bancárias?

Digitalização acelerada das transações bancárias e a popularização dos smartphones tornam os bancos físicos ultrapassados em meio à concorrência crescente, forçando-os a reinventar a atividade

Crédito:  Marco Ankosqui

Agências estão mudando do velho modelo para layouts com novas funcionalidades, que visam oferecer experiência mais personalizada (Crédito: Marco Ankosqui)

Por Mirela Luiz

Com a chegada da pandemia da Covid-19, o movimento de digitalização dos serviços bancários foi definitivamente consolidado, graças a meses de atendimento exclusivamente remoto. Desde então, inúmeras perguntas ficaram no ar. As agências bancárias vão acabar? As fintechs chegaram para substituí-las? É evidente que o avanço da tecnologia está mudando a forma como nos relacionamos com os serviços bancários. O uso do celular para realizar transações financeiras tem se tornado cada vez mais popular, e os bancos têm investido em melhorias e segurança nesses canais. O mobile banking se consolidou como o principal canal de relacionamento dos bancos com os clientes, proporcionando praticidade e conveniência.

“A pandemia foi um grande marco para diminuição do número de agências, tendo em vista que, em janeiro de 2020, havia 20.720. Com o fim da pandemia, em março de 2022, constavam no banco de dados do Banco Central 18.158 agências e até junho de 2024 esse número caiu para 17.072”, alerta Vicente Piccoli, sócio e líder da área Bancária, de Meios de Pagamento e Fintechs do FAS Advogados.

3.216 agências bancárias foram extintas desde 2019 

79% das transações são feitas pelos canais digitais

O que essas informações não mostram, contudo, é que ao mesmo tempo em que o número de agências bancárias diminui sensivelmente, houve um aumento bastante expressivo da população bancarizada. Ou seja, o canal digital adquiriu grande protagonismo, substituindo em grande parte o atendimento geral que ficava a cargo das agências físicas.

Uma das estratégias adotadas pelos bancos é a reestruturação do modelo atual das agências, com a adoção de novos layouts e funcionalidades. Essas mudanças visam oferecer uma experiência mais personalizada e funcional aos clientes, que ainda preferem o atendimento presencial.

O Bradesco, por exemplo, tem promovido algumas mudanças em seu modelo de atendimento, transformando parte de suas agências em unidades de negócios. “Este é um processo que vem sendo adotado há algum tempo, visto que atualmente 98% do total de operações feitas por nossos clientes acontece por meio dos canais digitais”, explica o banco em nota.

Os espaços estão sendo redesenhados para fornecer um ambiente acolhedor e moderno, onde os clientes podem receber consultoria financeira especializada, realizar transações e até mesmo participar de eventos comunitários.

“O papel do banco mudou na vida das pessoas. Além de um local para realizar transações, os bancos assumiram um papel mais consultivo”, afirma o Itaú Unibanco, também em nota. Apesar do cenário de redução das agências físicas, João Fraga, CEO da techfin Paag, fintech especializada em soluções financeiras, ressalta que os bancos tradicionais não vão desaparecer. “A tendência é diminuir o espaço físico das agências e trazer uma configuração moderna e acolhedora voltado para o aconselhamento de investimentos e planejamento financeiro”, explica.

A rapidez, conveniência e custos mais baixos dos serviços digitais têm atraído uma parcela crescente de clientes, especialmente entre os mais jovens e tecnologicamente adeptos.

A pesquisa da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) intitulada Tecnologia Bancária, revela que as transações pelos canais digitais correspondem a 79% do total, com destaque para o mobile banking, que registrou um crescimento significativo de 251% entre 2019 e 2023. Os brasileiros estão cada vez mais adeptos das transações pelo smartphone, devido à eficiência e praticidade que esse canal proporciona.

Entre os bancos que mais fecharam agências estão:
Santander,
Bradesco,
Itaú, Banco do Brasil,
e Caixa Econômica Federal.

Segundo dados da Febraban, as instituições mencionadas fecharam juntas 2.563 agências bancárias de 2020 a 2022. Desde 2019 foram extintas 3.216 agências bancárias. De acordo com os dados do Banco Central, compilados pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), apenas 55,5% dos 5.565 municípios brasileiros possuem cobertura de agências bancárias. Com isto, 2.476 municípios, ou 44,5% do total, não contam com este serviço. Esta realidade deixa 18 milhões de brasileiros sem atendimento bancário presencial em suas cidades.

Por um lado, a redução das agências pode resultar em uma diminuição nos custos operacionais para os bancos, melhorando sua rentabilidade. “Para muitas instituições, a estratégia de fechamento de agências é uma forma eficaz para cortar custos operacionais substanciais relacionados à infraestrutura, aluguéis e gastos com pessoal”, aponta o especialista em finanças e CEO da EWZ Capital, Henrique Castiglione. Isso pode dificultar, porém, o acesso a serviços financeiros para populações em áreas mais remotas ou de menor renda.

Impactos econômicos

Essa diminuição também pode ter um impacto negativo no emprego, estimativas da Febraban indicam que o fechamento de agências entre 2020 e 2022 pode ter resultado na redução de 14.000 postos de trabalho para seus funcionários. Somente nos últimos 12 meses, encerrados em abril de 2024, o setor bancário eliminou 3.325 postos de trabalho. O dado é do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

“Geralmente, as pessoas que optam por ir fisicamente ao banco são aquelas que buscam atendimento personalizado para questões específicas, como empréstimos, investimentos complexos ou problemas relacionados a contas e pagamentos. Os mais velhos ou em situação de vulnerabilidade também preferem lidar com transações financeiras de maneira pessoal”, avalia Leticia Murakawa, economista e CRO (Diretora de Receita) da Keeggo, consultoria de tecnologia bancária.

Para os especialistas, o importante não é escolher entre bancos tradicionais e fintechs, mas sim oferecer serviços de qualidade ao cliente. A humanização do atendimento é essencial para as agências permanecerem relevantes e não serem todas desativadas.