O brasileiro é o mais enganado na internet

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Eduardo Marini: "É imperioso que os brasileiros aprendam a confiar menos no que encontram nas redes sociais" (Crédito: Divulgação)

Por Eduardo Marini

Um dos anúncios publicitários do momento, de uma fintech de serviços financeiros, mostra o ator americano Will Smith “falando” português fluentemente, mesmo sem ter qualquer conhecimento do idioma. Um feito realizado graças aos encantos da mais nova ferramenta do mundo virtual: a inteligência artificial. O sincronismo perfeito entre voz, feições do rosto e movimentos da boca de Smith impressiona. E abre caminho para uma questão intrigante: até que ponto os recursos da IA serão usados para distorcer e inventar afirmações na próxima campanha eleitoral e nas que virão pela frente?

O tema assume relevância particular no País em função da imensa dificuldade dos brasileiros de identificar notícias falsas na internet.

A radiografia mais recente dessa realidade foi apresentada em um estudo sobre fake news em 21 países, que acaba de ser divulgado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Os mais de 40 mil participantes receberam conteúdos verdadeiros e falsos em espaços digitais que simulavam redes sociais.

Os australianos foram os mais eficientes na identificação de conteúdos falsos, com 90% de acerto. O Brasil? Foi o pior: 54%. A média geral ficou em 60%. Colombianos e americanos também apresentaram percentuais ruins, porém melhores do que os dos brasileiros. Uma parte rica do estudo é a que relaciona esses índices a níveis de confiança e consumo, em cada país, das informações publicadas em redes sociais. No geral, 9% dos participantes disseram acreditar muito no conteúdo desses espaços digitais. No Brasil, a média sobe para preocupantes 20%, a maior entre os países envolvidos.

Quem acredita muito nas redes tem maior dificuldade para identificar notícias falsas. O Brasil ficou em segundo lugar no quesito, com 57%, três pontos a menos do que a Colômbia. Entre os que confiam parcialmente nessas mídias, o índice sobe para 59% e, no grupo dos que crêem pouco ou nada, bate nos 62%.

O estudo da OCDE radiografa dois pontos vulneráveis no Brasil: a dificuldade de identificar fontes confiáveis e o exagero na busca de informação no salve-se quem puder da internet. O escritor e filósofo italiano Umberto Eco, autor de O Nome da Rosa, morto em 2016, não escondia a impaciência com essa situação. “As redes sociais deram direito à fala a legiões de imbecis que, anteriormente, falavam só no bar, depois de uma taça de vinho, sem causar dano à coletividade. Diziam imediatamente a ele para calar a boca, enquanto agora eles têm o mesmo direito à fala do que um ganhador do Prêmio Nobel.” É imperioso que os brasileiros aprendam a confiar menos no que encontram nas redes sociais. Ou então o time escalado por Eco vai crescer de forma ainda mais assustadora por aqui.